O título do poema de
Leal é, notoriamente, uma dedicatória aos que lutam em todas as partes do
mundo. E se poderia inferir daí que estejam suas linhas direcionadas àqueles
mesmos que, numa divisa mais do que replicada, o dramaturgo Bertolt Brecht os adjetiva
como “imprescindíveis”, pois que pugnam por toda a vida.
Mas os versos do
poeta adensam a mensagem com certos contornos que relembram as pregações de
Cristo – amai-vos uns aos outros, e mesmo aos inimigos –, frisando-as com a
necessidade de urgência, diante da possibilidade de que o ódio venha a prevalecer
no coração dos homens. Mas não: vencendo o amor, decerto a paz poderá descerrar
o seu manto!
J.A.R. – H.C.
Cláudio Murilo Leal
(n. 1937)
Aos Que Lutam em
Todas as Partes do Mundo
Amai-vos uns aos
outros
Mas amai-vos urgente
Das bombas que
explodem
Chameja um sangue
quente.
Facetada papoula
Sangue de tempestade
Uma chuva de flamas
Inundará a cidade.
Amai-vos uns aos
outros:
Amai o inimigo,
Pensai em suas vidas
Ceifadas como trigo.
Pensai em mães que
choram
Filhos dilacerados
Ventres crescendo sob
O signo de finados.
Amai-vos uns aos
outros.
Se o ódio se desfaz
Como as nuvens,
talvez
Possa nascer a paz.
Mulheres remendando
redes em vila de
pescadores
(Phung Wang: artista
vietnamita)
Referência:
MURILO, Cláudio. Aos
que lutam em todas as partes do mundo. In: FÉLIX, Moacyr (Dir.). Poesia Viva
I. Introdução de Antônio Houaiss. Rio de Janeiro, RJ: Civilização
Brasileira, 1968. p. 169-170. (Coleção ‘Poesia Hoje’, Direção Moacyr Félix, v.
18, Série ‘Novos Poetas do Brasil’)
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