Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Luis Hernández Camarero - Abel

O poeta peruano inverte o chamado do Senhor a Caim – “Onde está Abel, teu irmão?” –, depois de lhe haver matado, tudo em face de que Javé teria voltado os seus olhares às oferendas deste último – primogênitos de suas ovelhas –, em detrimento às daquele – frutos da terra.

 

De fato, encontrar graças junto ao Senhor exterioriza-se como uma espécie de acesso ao Paraíso e, àqueles que não encontram acolhida às suas oblatas, como Caim, a cólera remanescente molesta-lhes implacavelmente o espírito – e mal conhecem os agraciados a força mortificadora do que seja tal indiferença.

 

J.A.R. – H.C.

 

Luis Hernández Camarero

(1941-1977)

 

Abel

 

Abel, Abel, qué hiciste de tu hermano,

Di, qué hiciste,

Con el tallo de tu cuerpo siempre pito

Las sandalias lustradas y tus veintes.

 

No mirabas las ubres de las vacas

Ni el coloquio escondido de tus perros,

Sólo el humo de tu ofrenda que ascendía

Como ascienden las moscas hacia el cielo.

 

Sin embargo

Yo he visto a tu hermano y lo conozco

Persiguiendo la cólera entre vainas

Entre campos de trigo

Con los sucios vapores de su llanto

Reposando en la tierra

Como pronos cadáveres sin deudos.

 

Dime entonces qué hiciste

Hoy que yace tu hermano tan al Este.

Tú que nunca pensaste que para otro

Era duro de roer el Paraíso.

 

Caim e Abel

(Adolphe-William Bouguereau: pintor francês)

 

Abel

 

Abel, Abel, o que fizeste com o teu irmão,

Diz, o que fizeste,

Com o talhe de teu corpo sempre rijo,

As sandálias lustrosas e teus vinte anos.

 

Não olhavas os úberes das vacas

Nem o colóquio escondido de teus cães,

Somente a fumaça de tua oferta que ascendia,

Como ascendem as moscas em direção ao céu.

 

Contudo,

Vi teu irmão e o reconheci

Ao encalço da cólera entre vagens,

Entre campos de trigo,

Com os sujos vapores de seu pranto

Repousando na terra,

Como debruçados cadáveres sem contritos.

 

Diz-me então o que fizeste,

Hoje, que tão a leste jaz o teu irmão.

Tu que nunca pensaste que, para o outro,

O Paraíso era duro de roer.

 

Referência:

 

CAMARERO, Luis Hernández. Abel. In: __________. Vox horrísona. Selección y prólogo de Mirko Lauer. 2. ed. Lima, PE: Ediciones Copé, jun. 2014. p. 58. (Serie ‘Libros Peruanos’)

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