A poetisa indiana discorre
sobre uma pessoa de sexo feminino que se relembra de coisas que se passaram ainda
quando menina, oportunidade em que teria resgatado um garoto de um potencial
acidente envolvendo toras flutuantes em balanço, e que pouco mais tarde – pela ironia
do destino ?! – veio a tornar-se o seu próprio esposo.
Afora o lado mais pungente
das aventadas linhas, a cena muito recapitula o que se passa também na Amazônia,
com o transporte ilegal de madeira extraída à floresta pelas águas do rio, em
direção a madeireiras que as tratam de alguma forma e as comercializam não só
no mercado local quanto no internacional, num tipo de extrativismo predatório,
tanto mais em razão da quase ausência de reflorestamento e da fragilidade do
solo da grande “Hileia”, com o grave perigo de desertificação.
Mas a floresta tem
ardido como nunca nos anos recentes, com a conivência – e até mesmo a incitação
– das autoridades governamentais!
J.A.R. – H.C.
Sampurna Chattarji
(n. 1970)
A Memory of Logs
She understands
nothing of this place,
and so it moves her.
The thought of
faraway children
walking trancelike
into the water
towards a hope of
mussels.
She has married one
of those children.
Tall, he walks beside
her, boylike
in the memory of logs
that almost trapped
him,
the old story made
new
by the flutter of
light,
the whisper of wood,
the wobble of the
boat at her feet.
The timber factory
sleeps.
Long ago,
a square patch of
safety, rumble-bellied,
resisting the
monotony of land,
tempted the boys to
walk on water.
(And how it must have
felt,
the lurch of shifting
log,
solid melting into a
panic of sunlight
snapping shut in a
gridlock of fear?)
She feels the tug of
tears,
certain as the hand
that pulled out the boy
who sits beside her
on this plank,
warm with sun, and
ageing.
Balsa de madeira
(Frances Ann Hopkins:
pintora inglesa)
Uma Lembrança das
Toras
Nada ela entende
deste lugar,
então isso a comove.
O pensamento orientado
a crianças distantes
movendo-se em transe
pela água
ao encontro de uma promessa
de mexilhões.
Ela se casou com uma
dessas crianças.
Alto, ele caminha ao
lado dela, como um menino
na memória das toras
que quase o prendiam,
a velha história tornada
nova
pelo tremular da luz,
o sussurro da
madeira,
a oscilação do batel
a seus pés.
A fábrica de barrotes
adormece.
Há bastante tempo,
essa nesga quadrada invulnerável,
com um ventre
fragoroso,
resistindo à
monotonia da terra,
aliciara os meninos
para fazê-los andar sobre a água.
(E como deve ter sido
a sensação,
a oscilação da tora
em movimento,
o sólido a se derreter
em um pânico de luz solar,
fechando-se
repentinamente num gargalo de medo?)
Ela sente o impulso
das lágrimas,
segura como a mão que
puxou para fora o menino
que está sentado ao
seu lado nesta prancha,
acalorado pelo sol, e
a envelhecer.
Referência:
CHATTARJI, Sampurna. A
memory of logs. In: THAYIL, Jeet (Ed.). 60 indian poets. New Delhi, IN:
Penguin Books India, 2008. p. 356.
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