Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 17 de abril de 2022

Robert Morgan - Corda de Sino

Morgan confronta sinos e baldes de poços como fontes que desatam os seus movimentos a partir da ação humana: lembra-se o falante de um tio que, ao tocar o bronze de um templo, subia e descia agarrado à corda que o acionava, instantes antes das preleções de catequese nas quais, então, tomava parte.

 

Se um balde é capaz de trazer a água do fundo do poço até a posição em que se encontra o manejador da roldana, assim também o sino, uma espécie de balde invertido, com a função de “verter” o seu ribombar a milhas de distância, sobre “enseadas e vales”, convocando os fiéis aos serviços dominicais.

 

No mesmo ponto de destino, de um lado, a água – fonte de vida, fundamento de purificação, núcleo regenerativo –, e do outro, as palavras das Escrituras como alimento espiritual, plenas do mesmo sentido de restauração da aliança com o Criador.

 

A ambição de Robert Morgan é descrever objetos de uma maneira prática. E encontra o seu material no campo e em pequenos povoados do sul dos Estados Unidos. (MILOSZ, 1998, p. 57)

 

J.A.R. – H.C.

 

Robert Morgan

(n. 1944)

 

Bellrope

 

The line through the hold in the dank

vestibule ceiling ended in

a powerful knot worn slick, swinging

in the breeze from those passing. Half

an hour before service Uncle

Allen pulled the call to worship,

hauling down the rope like the starting

cord of a motor, and the tower

answered and answered, fading

as the clapper lolled aside. I watched

him before Sunday school heave on

the line as on a wellrope. And

the wheel creaked up there as heavy

buckets emptied out their startle

and spread a cold splash to farthest

coves and hollows, then sucked the rope

back into the loft, leaving just

the knot within reach, trembling

with its high connections.

 

Sinos de Rostov

(Ivan Kovalenko: pintor ucraniano)

 

Corda de Sino

 

O cabo através do porão, no teto

do úmido vestíbulo, terminava num

poderoso nó desgastado e resvaladiço, oscilando

na brisa daqueles que passavam. Meia

hora antes do serviço, tio

Allen dava início à chamada para o culto,

puxando a corda para baixo, como se fosse

o cabo de partida de um motor, e a torre

reboava e reboava, encobrindo-se

conforme o badalo pendia para o lado.

Eu o observava,

antes da escola dominical, alçando-se

no cabo como em uma corda de poço. E

a roda rangia lá em cima, enquanto pesados

baldes esvaziavam seus rebates

e espargiam um frio respingo até as mais distantes

enseadas e vales; depois a corda era sugada

de volta ao sótão, deixando apenas

o nó ao alcance da mão, vibrando

ao sabor de suas conexões superiores.

 

Referência:

 

MORGAN, Robert. Bellrope. In: MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of luminous things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin Harcourt, 1998. p. 57.

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