Morgan confronta
sinos e baldes de poços como fontes que desatam os seus movimentos a partir da
ação humana: lembra-se o falante de um tio que, ao tocar o bronze de um templo,
subia e descia agarrado à corda que o acionava, instantes antes das preleções de
catequese nas quais, então, tomava parte.
Se um balde é capaz
de trazer a água do fundo do poço até a posição em que se encontra o manejador
da roldana, assim também o sino, uma espécie de balde invertido, com a função
de “verter” o seu ribombar a milhas de distância, sobre “enseadas e vales”, convocando
os fiéis aos serviços dominicais.
No mesmo ponto de
destino, de um lado, a água – fonte de vida, fundamento de purificação, núcleo
regenerativo –, e do outro, as palavras das Escrituras como alimento
espiritual, plenas do mesmo sentido de restauração da aliança com o Criador.
A ambição de Robert
Morgan é descrever objetos de uma maneira prática. E encontra o seu material no
campo e em pequenos povoados do sul dos Estados Unidos. (MILOSZ, 1998, p. 57)
J.A.R. – H.C.
Robert Morgan
(n. 1944)
Bellrope
The line through the
hold in the dank
vestibule ceiling
ended in
a powerful knot worn
slick, swinging
in the breeze from
those passing. Half
an hour before
service Uncle
Allen pulled the call
to worship,
hauling down the rope
like the starting
cord of a motor, and
the tower
answered and
answered, fading
as the clapper lolled
aside. I watched
him before Sunday
school heave on
the line as on a
wellrope. And
the wheel creaked up
there as heavy
buckets emptied out
their startle
and spread a cold
splash to farthest
coves and hollows,
then sucked the rope
back into the loft,
leaving just
the knot within
reach, trembling
with its high
connections.
Sinos de Rostov
(Ivan Kovalenko:
pintor ucraniano)
Corda de Sino
O cabo através do
porão, no teto
do úmido vestíbulo,
terminava num
poderoso nó
desgastado e resvaladiço, oscilando
na brisa daqueles que
passavam. Meia
hora antes do serviço,
tio
Allen dava início à
chamada para o culto,
puxando a corda para
baixo, como se fosse
o cabo de partida de
um motor, e a torre
reboava e reboava, encobrindo-se
conforme o badalo
pendia para o lado.
Eu o observava,
antes da escola
dominical, alçando-se
no cabo como em uma
corda de poço. E
a roda rangia lá em
cima, enquanto pesados
baldes esvaziavam
seus rebates
e espargiam um frio
respingo até as mais distantes
enseadas e vales;
depois a corda era sugada
de volta ao sótão,
deixando apenas
o nó ao alcance da
mão, vibrando
ao sabor de suas conexões
superiores.
Referência:
MORGAN, Robert.
Bellrope. In: MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of
luminous things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York,
NY: Houghton Mifflin Harcourt, 1998. p. 57.
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