De uma longa ode em
que se revelam os dotes poéticos grandiloquentes do autor português, transcrevo
abaixo um expressivo excerto, no qual o falante dirige-se a políticos que pouco
veem além do contorno imediato de suas próprias possibilidades, incapazes de transcendê-las
até horizontes que abarquem miríades de outras vidas, talvez a própria
humanidade.
Revelam-se-nos a
consciência do poeta, o apelo por aspirações mais nobres, o entusiasmo por um
mundo novo, um mundo onde as pessoas devam ser consideradas de uma forma
decisiva, e não apenas usadas para interesses políticos escusos: veja, leitor,
a beleza da elocução exclamatória de Antero, nos oito últimos versos luminares
deste fragmento.
J.A.R. – H.C.
Antero de Quental
(1842-1891)
Vida
(A uns políticos)
(Excerto)
Por que é que
combateis? O mundo é vasto!
Dá para todos –
todos, no seu pano,
Podem talhar à farta
e à larga um manto
Com que cobrir-se… e
que inda arraste… É vasto,
Erguei somente os
olhos! alongai-os
Pelo horizonte! e,
além desse horizonte,
Há mil e mil como
este!
Se vós tendes
O olhar fito nos pés,
aonde a sombra
Em volta de vós
mesmos gira apenas,
O que podeis saber
desse Universo?!
Não há olhos que
contem tantos orbes!
E cada um desses
mundos tem mil vidas!
E cada vida tem
milhões de afetos,
De paixões, de
energias, de desejos!
Cada peito é um céu
de mil estrelas!
Cada ser tem mil
seres! mil instantes!
E, em cada instante,
as criações transformam-se!
E coisas novas a
nascerem sempre!
Diplomacia Britânica
(Gheorghe Virtosu:
artista moldavo)
Referência:
QUENTAL, Antero. Vida
(A uns políticos): excerto. In: __________. Odes modernas. São Paulo,
SP: Martin Claret, 2008. p. 51.
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