Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Antero de Quental - Odes Modernas

De uma longa ode em que se revelam os dotes poéticos grandiloquentes do autor português, transcrevo abaixo um expressivo excerto, no qual o falante dirige-se a políticos que pouco veem além do contorno imediato de suas próprias possibilidades, incapazes de transcendê-las até horizontes que abarquem miríades de outras vidas, talvez a própria humanidade.

 

Revelam-se-nos a consciência do poeta, o apelo por aspirações mais nobres, o entusiasmo por um mundo novo, um mundo onde as pessoas devam ser consideradas de uma forma decisiva, e não apenas usadas para interesses políticos escusos: veja, leitor, a beleza da elocução exclamatória de Antero, nos oito últimos versos luminares deste fragmento.

 

J.A.R. – H.C.

 

Antero de Quental

(1842-1891)

 

Vida

(A uns políticos)

 

(Excerto)

 

Por que é que combateis? O mundo é vasto!

Dá para todos – todos, no seu pano,

Podem talhar à farta e à larga um manto

Com que cobrir-se… e que inda arraste… É vasto,

Erguei somente os olhos! alongai-os

Pelo horizonte! e, além desse horizonte,

Há mil e mil como este!

Se vós tendes

O olhar fito nos pés, aonde a sombra

Em volta de vós mesmos gira apenas,

O que podeis saber desse Universo?!

Não há olhos que contem tantos orbes!

E cada um desses mundos tem mil vidas!

E cada vida tem milhões de afetos,

De paixões, de energias, de desejos!

Cada peito é um céu de mil estrelas!

Cada ser tem mil seres! mil instantes!

E, em cada instante, as criações transformam-se!

E coisas novas a nascerem sempre!

 

Diplomacia Britânica

(Gheorghe Virtosu: artista moldavo)

 

Referência:

 

QUENTAL, Antero. Vida (A uns políticos): excerto. In: __________. Odes modernas. São Paulo, SP: Martin Claret, 2008. p. 51.

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