Ainda que já contabilize certo volume de anos nas costas, o ente lírico se pergunta no que acredita, sobre o que procura, o que ainda espera no transcurso dos pósteros dias, sintetizando, por fim, que é “a solidão e o seu exercício” que lhe fazem companhia nas noites insones, ricas em virtualidades da existência, onde se fermenta o vir a ser, as suas mais elevadas aspirações.
Se amor ou paixão, pouco importa o nome ou o rosto que possam identificar esse desassossego que lhe vai “na carne, no sangue”, como um “clamor do Mito”, contanto que o falante seja capaz de expressar a verdade de suas percepções, expectativas já num plano superior de existência – mesmo que, logo ali à frente, pressintam-se as lindes de todo sonho humano.
J.A.R. – H.C.
Cassiano Nunes
(1921-2007)
Blue n° 2
a Manuel Moreyra
Passaram os anos...
E ainda acredito!
Na carne, no sangue,
o clamor do Mito!
E vagueio na noite
procurando, insone,
a paixão sem rosto,
o amor sem nome...
Que quero? Que espero?
É capricho? Vício?
Não.
É a solidão
e o seu exercício.
Árvore Azul
(Lauren O'Neill: pintora canadense)
Referência:
NUNES, Cassiano. Blues nº 2. In: SOUZA,
Aglaia et al. Caliandra: poesia em Brasília. Brasília, DF: André Quicé
Editor, 1995. p. 52.
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