Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Cassiano Nunes - Blue nº 2

Ainda que já contabilize certo volume de anos nas costas, o ente lírico se pergunta no que acredita, sobre o que procura, o que ainda espera no transcurso dos pósteros dias, sintetizando, por fim, que é “a solidão e o seu exercício” que lhe fazem companhia nas noites insones, ricas em virtualidades da existência, onde se fermenta o vir a ser, as suas mais elevadas aspirações.

Se amor ou paixão, pouco importa o nome ou o rosto que possam identificar esse desassossego que lhe vai “na carne, no sangue”, como um “clamor do Mito”, contanto que o falante seja capaz de expressar a verdade de suas percepções, expectativas já num plano superior de existência – mesmo que, logo ali à frente, pressintam-se as lindes de todo sonho humano.

J.A.R. – H.C.

 

Cassiano Nunes

(1921-2007)

 

Blue n° 2

 

a Manuel Moreyra

 

Passaram os anos...

E ainda acredito!

Na carne, no sangue,

o clamor do Mito!

 

E vagueio na noite

procurando, insone,

a paixão sem rosto,

o amor sem nome...

 

Que quero? Que espero?

É capricho? Vício?

Não.

É a solidão

e o seu exercício.

 

Árvore Azul

(Lauren O'Neill: pintora canadense)


Referência:

NUNES, Cassiano. Blues nº 2. In: SOUZA, Aglaia et al. Caliandra: poesia em Brasília. Brasília, DF: André Quicé Editor, 1995. p. 52.

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