Félix canta loas ao primeiro cosmonauta – soviético no caso – a viajar pelo espaço, em meados de 1961, a bordo da nave Vostok 1; em seguida, faz alusão à estação espacial “Myr” (“Paz”, “Universo” ou “Mundos Estelares”, em russo), lançada para além do firmamento em fevereiro de 1986, poucos meses antes de o poema ser redigido, vale dizer, em abril do mesmo ano.
A mensagem que se atrela aos versos do poeta são de “paz & amor” e, por trás de suas palavras, o ideário marxista – “sem lutas de classe e sem medos e sem fome”. Contudo, o fato é que os projetos dos soviéticos – e depois dos russos – e os dos norte-americanos foram se sucedendo como corolário insofismável da “guerra fria”, como se pode apreender, já num cenário aeroespacial.
J.A.R. – H.C.
Moacyr Félix
(1926-2005)
Saudação a Gagarin e ao Futuro (*)
Yuri, o soviético, soube, mais que qualquer homem
que a Terra é azul! E que o amor humano
entre as estrelas tem a beleza de uma rua
sem lutas de classe e
sem medos e sem fome
e na qual cada desejo nosso afagará no tempo
o próprio corpo de uma eternidade nua.
Myr, esta é a real morada da vida que
senta e pensa
no infinito a paz, essa coisa indefinida e imensa
que se acopla ao rastro de Gagarin e nos convida
a ver nos portais da nossa história a ponte extensa
para o amor andar no chão da desmedida.
Myr, nós te saudamos, olho do futuro
que nos olhos de Yuri Gagarin se acendeu
quando em cavalos de luz sobre o vazio escuro
o sonho humano se apossou do céu!
Myr, nós te saudamos, nós, homens da Terra
que te sabemos canção e paz e não horror e guerra!
Yuri Gagarin
(1934-1968)
Nota da Editora:
(*). No dia 12 de abril de 1986, a convite da Agência Novosti, Moacyr Félix fez um poema especial para a comemoração dos 25 anos da subida ao espaço de Yuri Gagarin, o primeiro cosmonauta do mundo. Este poema foi lido pelo próprio autor, em ligação direta do Rio de Janeiro, para a espaçonave soviética Myr, então na órbita da Terra, e traduzido simultaneamente para toda a então União Soviética. O Brasil teve assim o primeiro poeta a lançar sua mensagem de paz através do infinito espaço. (FÉLIX, 1993, n.r., p. 270)
Referência:
FÉLIX, Moacyr. Saudação a Gagarin e ao
futuro. In: __________. Antologia poética. Editoria por Fátima Pires dos
Santos. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1993. p. 270.
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