A poesia tem o dom de nos fomentar revelações sobre o que seja a vida – ou pelo menos o seu sentido – tão etéreas e voláteis que tudo acaba por permanecer no mais recôndito mistério, encastelado em seu segredo: ao despertarmos a cada dia somos como que levados ao ponto zero da existência e novamente confrontados com o dilema que é estarmos vivos – uma equação a admitir um sem número de soluções!
E essa é a graça de viver: a poetisa e as suas jovens leitoras expõem-se a tais epifanias, advindas das palavras a engendrar mundos – “no início era o verbo!” –, inspiração e motivação para tornarmos significativos os nossos dias – “carpe diem!” –, porque não há desafio mais gratificante do que mantermo-nos ocupados em decifrar a “máquina do mundo” que se nos entreabre a cada alvorecer!
J.A.R. – H.C.
Denise Levertov
(1923-1997)
The Secret
Two girls discover
the secret of life
in a sudden line of
poetry.
I who don’t know the
secret wrote
the line. They
told me
(through a third person)
they had found it
but not what it was
not even
what line it was. No doubt
by now, more than a week
later, they have forgotten
the secret,
the line, the name of
the poem. I love them
for finding what
I can’t find,
and for loving me
for the line I wrote,
and for forgetting it
so that
a thousand times, till death
finds them, they may
discover it again, in other
lines
in other
happenings. And for
wanting to know it,
for
assuming there is
such a secret, yes,
for that
most of all.
Duas Jovens
(Berthe Morisot: pintora francesa)
O Segredo
Duas meninas descobrem
o segredo da vida
numa linha súbita
de poesia.
Eu, que não sei o
segredo, escrevi
este verso. Elas
me dizem
(através de outra pessoa)
que o descobriram,
mas não dizem o que era
nem tampouco
qual o verso. Agora,
que já faz uma semana,
certamente, esqueceram
o segredo,
qual era o verso ou o nome
do poema. E eu amo as duas
por descobrirem aquilo
que não posso descobrir
e por me amarem
e ao verso que escrevi
e porque o esqueceram,
de modo
que mil vezes até que a morte
as encontre, elas poderão
fazer a descoberta de novo, em outros
versos,
em outros
acontecimentos. Amo-as por desejarem
descobrir,
por
admitirem que exista
um tal segredo; sim, amo-as
principalmente
por isto.
Referência:
LEVERTOV, Denise. The secret / O
segredo. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Márcia Cavendish; FIALHO,
Carlos Eduardo; CAVENDISH, Sueli (Orgs.). Do jeito delas: vozes
femininas de língua inglesa. Traduções de Jorge Wanderley. Rio de Janeiro, RJ:
7Letras, 2008. Em inglês: p. 52 e 54; em português: p. 53 e 55.
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