Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Denise Levertov - O Segredo

A poesia tem o dom de nos fomentar revelações sobre o que seja a vida – ou pelo menos o seu sentido – tão etéreas e voláteis que tudo acaba por permanecer no mais recôndito mistério, encastelado em seu segredo: ao despertarmos a cada dia somos como que levados ao ponto zero da existência e novamente confrontados com o dilema que é estarmos vivos – uma equação a admitir um sem número de soluções!

E essa é a graça de viver: a poetisa e as suas jovens leitoras expõem-se a tais epifanias, advindas das palavras a engendrar mundos – “no início era o verbo!” –, inspiração e motivação para tornarmos significativos os nossos dias – “carpe diem!” –, porque não há desafio mais gratificante do que mantermo-nos ocupados em decifrar a “máquina do mundo” que se nos entreabre a cada alvorecer!

J.A.R. – H.C.

 

Denise Levertov

(1923-1997)

 

The Secret

 

Two girls discover  

the secret of life  

in a sudden line of  

poetry.

 

I who don’t know the  

secret wrote  

the line. They  

told me

 

(through a third person)  

they had found it

but not what it was  

not even

 

what line it was. No doubt  

by now, more than a week  

later, they have forgotten  

the secret,

 

the line, the name of  

the poem. I love them  

for finding what  

I can’t find,

 

and for loving me  

for the line I wrote,  

and for forgetting it  

so that

 

a thousand times, till death  

finds them, they may  

discover it again, in other  

lines

 

in other  

happenings. And for  

wanting to know it,  

for

 

assuming there is  

such a secret, yes,  

for that  

most of all.

 

Duas Jovens

(Berthe Morisot: pintora francesa)

 

O Segredo

 

Duas meninas descobrem

o segredo da vida

numa linha súbita

de poesia.

 

Eu, que não sei o

segredo, escrevi

este verso. Elas

me dizem

 

(através de outra pessoa)

que o descobriram,

mas não dizem o que era

nem tampouco

 

qual o verso. Agora,

que já faz uma semana,

certamente, esqueceram

o segredo,

 

qual era o verso ou o nome

do poema. E eu amo as duas

por descobrirem aquilo

que não posso descobrir

 

e por me amarem

e ao verso que escrevi

e porque o esqueceram,

de modo

 

que mil vezes até que a morte

as encontre, elas poderão

fazer a descoberta de novo, em outros

versos,

 

em outros

acontecimentos. Amo-as por desejarem

descobrir,

por

 

admitirem que exista

um tal segredo; sim, amo-as

principalmente

por isto.


Referência:

LEVERTOV, Denise. The secret / O segredo. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Márcia Cavendish; FIALHO, Carlos Eduardo; CAVENDISH, Sueli (Orgs.). Do jeito delas: vozes femininas de língua inglesa. Traduções de Jorge Wanderley. Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2008. Em inglês: p. 52 e 54; em português: p. 53 e 55.

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