Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Armindo Trevisan - Outra vez, Deus

Deus, para o teólogo, poeta e ensaísta gaúcho, não é algo que se possa ver, tocar, nem mesmo pensar, isto porque se consubstancia na fé, para além do exercício racional que possamos empreender por meio de nossos “pobres neurônios” – a menos que se o creia, v.g., na figura de Cristo, nascido humanamente criança e crucificado no Gólgota.

Diante da alocução do poema, pode-se afirmar que Trevisan estima com menor ponderação os exercícios levados a efeito por grandes pensadores e teólogos – a exemplo de São Tomas de Aquino (1225-1274) –, referentes aos argumentos lógicos, analógicos, ontológicos, cosmológicos e físico-teológicos para se provar a existência de Deus, todos eles relativizados em favor da simples profissão de fé, mais conforme à modesta “estatura” dos homens.

J.A.R. – H.C.

 

Armindo Trevisan

(n. 1933)

 

Outra vez, Deus

 

Afirma-se

que o Senhor Altíssimo

é mais conhecido pelo que Ele não é.

 

Não é algo que se vê,

que se toca,

nem que se pensa.

 

É tudo isso,

desde que O imagines

fora de tudo isso.

 

Não queiras pôr Deus na companhia

de teus pobres neurônios:

eles morreriam de tédio.

 

A não ser que te disponhas

a crer que Ele entrou na História

e permitiu que o afagassem

como uma criança,

morrendo como um bicho

– porque é assim que muitos homens morrem.

 

Tens um privilégio, ó racional,

entre todas as criaturas:

Deus abriu mão de sua condição

para amar-te, não à sua altura,

Mas à tua altura.

 

Paisagem romântica com abeto

(Elias Martin: pintor sueco)


Referência:

TREVISAN, Armindo. Outra vez, Deus. In: __________. Adega imaginária & O relincho do cavalo adormecido. 1. ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013. p. 150.

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