Deus, para o teólogo, poeta e ensaísta gaúcho, não é algo que se possa ver, tocar, nem mesmo pensar, isto porque se consubstancia na fé, para além do exercício racional que possamos empreender por meio de nossos “pobres neurônios” – a menos que se o creia, v.g., na figura de Cristo, nascido humanamente criança e crucificado no Gólgota.
Diante da alocução do poema, pode-se afirmar que Trevisan estima com menor ponderação os exercícios levados a efeito por grandes pensadores e teólogos – a exemplo de São Tomas de Aquino (1225-1274) –, referentes aos argumentos lógicos, analógicos, ontológicos, cosmológicos e físico-teológicos para se provar a existência de Deus, todos eles relativizados em favor da simples profissão de fé, mais conforme à modesta “estatura” dos homens.
J.A.R. – H.C.
Armindo Trevisan
(n. 1933)
Outra vez, Deus
Afirma-se
que o Senhor Altíssimo
é mais conhecido pelo que Ele não é.
Não é algo que se vê,
que se toca,
nem que se pensa.
É tudo isso,
desde que O imagines
fora de tudo isso.
Não queiras pôr Deus na companhia
de teus pobres neurônios:
eles morreriam de tédio.
A não ser que te disponhas
a crer que Ele entrou na História
e permitiu que o afagassem
como uma criança,
morrendo como um bicho
– porque é assim que muitos homens morrem.
Tens um privilégio, ó racional,
entre todas as criaturas:
Deus abriu mão de sua condição
para amar-te, não à sua altura,
Mas à tua altura.
Paisagem romântica com abeto
(Elias Martin: pintor sueco)
Referência:
TREVISAN, Armindo. Outra vez, Deus. In:
__________. Adega imaginária & O relincho do cavalo adormecido. 1.
ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013. p. 150.
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