Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 11 de dezembro de 2021

Charles Bukowski - Sexo

A voz lírica descreve um daqueles momentos em que nenhuma palavra foi dita entre os partícipes de um encontro, e o sentido daquilo que sucede decorre, quiçá, bem menos dos fatos do que da interpretação que a eles atribuímos, a ponto de levar o poeta, por exemplo, a titular o poema com o tema que lhe veio à cabeça de uma forma mais espontânea – sexo!

A enorme bola de chiclete cor-de-rosa, as nádegas pronunciadas num jeans apertado, o olhar direto pelo para-brisa, o corpo ondulante, tudo conota nas palavras do poeta uma disposição de sensualidade na moça que lhe corta a frente do carro, provavelmente num ponto de semáforo. Mas veja o leitor que ela terminou por entrar num estabelecimento comercial – a denotar que “sexo” corresponderia apenas a um estado de potencialidade deduzido da cena pelo falante, não exatamente inscrito em primeiro lugar, pelo menos num plano imediato, na agenda da adolescente.

J.A.R. – H.C.

 

Charles Bukowski

(1920-1994)

 

Sex

 

I am driving down Wilton Avenue

when this girl of about 15

dressed in tight blue jeans

that grip her behind like two hands

steps out in front of my car

I stop to let her cross the street

and as I watch her contours waving

she looks directly through my windshield

at me

with purple eyes

and then blows

out of her mouth

the largest pink globe of

bubble gum

I have ever seen

while I am listening to Beethoven

on the car radio.

she enters a small grocery store

and is gone

and I am left with

Ludwig.

 

Grande traseiro de uma linda

e sensual mulher africana

(Daniela Alilovic: artista canadense)

 

Sexo

 

vou pela avenida Wilton

quando esta garota de uns 15 anos

vestida com um jeans apertado

que se cola ao seu rabo como duas mãos

pula na frente do meu carro

paro e deixo ela cruzar a rua

e enquanto olho suas curvas ondulantes

ela me olha direto através do

para-brisa

com os olhos púrpuras

e então faz brotar

para fora da boca

a maior bola de chiclete

cor-de-rosa

que eu jamais vi

enquanto escuto Beethoven

no rádio do carro.

ela entra numa mercearia

e se vai

e eu fico abandonado com o

Ludwig.


Referências:

Em Inglês

BUKOWSKI, Charles. Sex. In: __________. Love is a dog from hell: poems, 1974-1977. Santa Barbara, CA: Black Sparrow Press, 1977. p. 254.

Em Português

BUKOWSKI, Charles. Sexo. In: __________. O amor é um cão dos diabos. Tradução de Pedro Gonzaga. Porto Alegre, RS: L&PM, 2014. p. 249. (Coleção L&PM Pocket, v. 888)

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