Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Wislawa Szymborska - As três palavras mais estranhas

Eis um curto poema da poetisa polonesa, a pervagar pelas singularidades – ou mesmo pelas ambiguidades – da linguagem, notoriamente afeita a capturar a realidade, mas nem sempre precisa, absoluta, peremptória em seu intento, como se pode depreender das inflexões trazidas à tona por Szymborska, em cada uma das sentenças nos arredores dos conceitos de “futuro”, “silêncio” e “nada”.

O corte no tempo entre o agora, o antes e o depois; a ruptura do silêncio por uma voz que verbaliza tal palavra; o enunciado do vocábulo “nada” que, por pressupor o vazio, o vácuo, o falto, não há como se associar a um não ser, sem que isso deixe de implicar certa infringência à própria lógica: estamos envoltos nos paradoxos engendrados pelas convenções da linguagem!

J.A.R. – H.C.

 

Wisława Szymborska

(1923-2012)

 

Trzy słowa najdziwniejsze

 

Kiedy wymawiam słowo Przyszłość,

pierwsza sylaba odchodzi już do przeszłości.

 

Kiedy wymawiam słowo Cisza,

niszczę ją.

 

Kiedy wymawiam słowo Nic,

stwarzam co, co nie mieści się w żadnym niebycie.

 

In: “Chwila” (2002)

 

Nada: o evento o dirá

(Francisco de Goya: pintor espanhol)

 

As três palavras mais estranhas

 

Quando pronuncio a palavra Futuro,

a primeira sílaba já se perde no passado.

 

Quando pronuncio a palavra Silêncio,

suprimo-o.

 

Quando pronuncio a palavra Nada,

crio algo que não cabe em nenhum não ser.

 

Em: “Instante” (2002)


Referência:

SZYMBORSKA, Wisława. Trzy słowa najdziwniejsze / As três palavras mais estranhas. Tradução de Regina Przybycien. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. Edição Bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011. Em português: p. 107; em polonês: p. 165.

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