Eis um curto poema da poetisa polonesa, a pervagar pelas singularidades – ou mesmo pelas ambiguidades – da linguagem, notoriamente afeita a capturar a realidade, mas nem sempre precisa, absoluta, peremptória em seu intento, como se pode depreender das inflexões trazidas à tona por Szymborska, em cada uma das sentenças nos arredores dos conceitos de “futuro”, “silêncio” e “nada”.
O corte no tempo entre o agora, o antes e o depois; a ruptura do silêncio por uma voz que verbaliza tal palavra; o enunciado do vocábulo “nada” que, por pressupor o vazio, o vácuo, o falto, não há como se associar a um não ser, sem que isso deixe de implicar certa infringência à própria lógica: estamos envoltos nos paradoxos engendrados pelas convenções da linguagem!
J.A.R. – H.C.
Wisława Szymborska
(1923-2012)
Trzy słowa najdziwniejsze
Kiedy wymawiam słowo Przyszłość,
pierwsza sylaba odchodzi już do przeszłości.
Kiedy wymawiam słowo Cisza,
niszczę ją.
Kiedy wymawiam słowo Nic,
stwarzam co, co nie mieści się w żadnym niebycie.
In: “Chwila” (2002)
Nada: o evento o dirá
(Francisco de Goya: pintor espanhol)
As três palavras mais estranhas
Quando pronuncio a palavra Futuro,
a primeira sílaba já se perde no passado.
Quando pronuncio a palavra Silêncio,
suprimo-o.
Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não ser.
Em: “Instante” (2002)
Referência:
SZYMBORSKA, Wisława. Trzy słowa
najdziwniejsze / As três palavras mais estranhas. Tradução de Regina Przybycien. In: __________. Poemas.
Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. Edição Bilíngue. São
Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011. Em português: p. 107; em polonês: p. 165.
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