Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Michael Donaghy - Máquinas

Este poema fez-me lembrar das primeiras lições de Física Elementar, lá pelos anos 70, nomeadamente, da Primeira Lei de Newton, a enunciar que todo corpo continua em seu estado de repouso ou de movimento retilíneo uniforme, a menos que seja forçado a mudar tal estado pelo efeito de forças que lhe sejam imputadas.

Mas para quem deseja chegar a algum lugar, a opção de ficar parado é um impeditivo, ou seja, temos que nos mover com equilíbrio pelas sendas deste mundo, airosa e cuidadosamente, manobrando os seus engenhos – como a bicicleta de corridas ou o cravo, mencionados pelo poeta –, para que nossas relações possam chegar a bom termo, quer com as máquinas propriamente ditas, quer com esse “mecanismo” muito mais complexo que qualquer dispositivo jamais concebido: os nossos pares!

J.A.R. – H.C.

 

Michael Donaghy

(1954-2004)

 

Machines

 

Dearest, note how these two are alike:

This harpsichord pavane by Purcell

And the racer’s twelve-speed bike.

 

The machinery of grace is always simple.

This chrome trapezoid, one wheel connected

To another of concentric gears,

Which Ptolemy dreamt of and Schwinn perfected,

Is gone. The cyclist, not the cycle, steers.

And in the playing, Purcell’s chords are played away.

 

So this talk, or touch if I were there,

Should work its effortless gadgetry of love,

Like Dante’s heaven, and melt into the air.

 

If it doesn’t, of course, I’ve fallen. So much is chance,

So much agility, desire, and feverish care,

As bicyclists and harpsichordists prove

 

Who only by moving can balance,

Only by balancing move.


 

Corrida de Bicicletas

(Ben Rotman: artista israelense)

 

Máquinas

 

Querida, observe como esses dois se parecem:

Esta pavana para cravo de Purcell

E a bicicleta de doze marchas do corredor.

 

O mecanismo da graça é sempre simples.

Este trapezoide cromado, uma roda conectada

A outra de engrenagens concêntricas,

Sonhada por Ptolomeu e aperfeiçoada por Schwinn,

Ao longe vai. O ciclista, não o ciclo, está ao comando.

E ao se tocar o cravo, difundem-se os acordes de Purcell.

 

Logo, este colóquio, ou o toque se aí eu estivesse,

Deveria acionar sem esforço o seu dispositivo de amor –

Como o paraíso de Dante – e difundir-se no ar.

 

Se tal não ocorrer, claro, terei caído. Tanto é o acaso,

Tanta a agilidade, o desejo e os febricitantes cuidados,

Como o provam os ciclistas e os cravos

 

Que somente movendo-se podem equilibrar-se,

Somente pelo equilíbrio do movimento.


Referência:

DONAGHY, Michael. Machines. In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 81.

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