Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Patricia K. Page - Véspera de Natal – Praça do Mercado

A poetisa canadense concentra-se em descrever o burburinho numa praça onde há um mercado, em determinada cidade que lhe é bastante dileta durante a estação natalina: tudo lá se vende, de abetos a enfeites como boás, peças que são anunciadas pelos vendedores aos que ali se dispõem a comparecer na véspera do Natal, com o propósito de obter os últimos itens necessários às grandes festas.

O clima que se concebe nos versos do poema – não só o que diz respeito à baixa temperatura sob a neve que cai, como o figurativo, caloroso e hospitaleiro – transporta o leitor para o tempo de infância, no qual as coisas surgem inéditas aos olhares das crianças, levando-as a manifestar com naturalidade o êxtase mais espontâneo.

Neste ensejo, desejo boas festas para todos os leitores deste blog e, por extensão, a todos os que têm ânimo de boa vontade com o próximo.

J.A.R. – H.C.

 

Patricia K. Page

(1916-2010)

 

Christmas Eve – Market Square

 

City of Christmas, here, I love your season,

where in the market square,

bristled and furry

like a huge animal

the fir trees lie

silently waiting buyers.

It’s as if

they hold the secrets of a Christmas sealed –

as statues hold their feelings sealed in stone –

and burst to bells and baubles on their own

within the warmth and lightness of a house

as trees in springtime burst to buds and birds.

 

The sellers, bunched and bundled,

hold their ears,

blow lazy boas as they call their wares,

and children out of legends pulling sleds,

prop tall trees straight in search of symmetry

and haul the spikey aromatic wonder

of tree through a snowy world.

Almost the tree sings through them in their carols,

almost grows taller in their torsos, is

perfectly theirs, as nothing ever was.

 

The soft snow falls,

vague smiling drunkards weave

gently as angels through a street of feathers;

balancing bulging parcels with their wings

they tip-toe where the furry monster grows

smaller and hoarier

and nerveless sprawls

flat on its mammoth, unimagined face.

While in far separate houses

all its nerves

spring up like rockets,

unknown children see

a miracle

and unknown children cry

to cut the ceiling, not to lop the tree.

 

Praça do Mercado no Natal

(Kevin Walsh: artista inglês)

 

Véspera de Natal – Praça do Mercado

 

Cidade do Natal, aqui, encantas-me nesta quadra,

onde, na praça do mercado,

eriçados e cerdosos

como um animal enorme,

os abetos jazem

em silêncio à espera de compradores.

É como se

guardassem selados os segredos de um Natal –

feito estátuas que mantêm selados em pedra seus sentimentos –

e rebentassem, por conta própria, em sinos e adornos,

em meio à calidez e luminosidade de uma casa,

como árvores, na primavera, a irromper em brotos e pássaros.

 

Os vendedores, agrupados e agasalhados,

seguram suas orelhas,

sopram indolentes boás, enquanto anunciam suas mercadorias,

e crianças, como que saídas de lendas, puxando trenós,

sustentam árvores altas em busca de simetria

e transportam essa maravilha aromática e pontiaguda

de árvore através de um mundo nevado.

A árvore quase canta por meio deles em suas toadas natalinas,

quase se expande mais alta em seus torsos, sendo

perfeitamente suas, como de modo algum jamais o fora.

 

Suave cai a neve;

errantes e sorridentes beberrões serpenteiam

morosamente como anjos por uma rua de plumas;

equilibrando pacotes volumosos com suas asas,

põem-se na ponta dos pés onde o monstro cerdoso faz-se

menor e mais esbranquiçado

e, sem nervuras, esparrama-se

aplainado em seu gigantesco e inimaginável rosto.

Enquanto em casas bem separadas

todos os seus nervos

saltam que nem rojões,

anônimas crianças veem

um milagre

e imploram para que se fenda o teto,

não para que se pode a árvore.


Referência:

PAGE, Patricia K. Christmas eve – market square. In: __________. The metal and the flower. Toronto, CA: McClelland & Stewart, 1954. 20-21. (Indian File Book n. 7)

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