A poetisa canadense concentra-se em descrever o burburinho numa praça onde há um mercado, em determinada cidade que lhe é bastante dileta durante a estação natalina: tudo lá se vende, de abetos a enfeites como boás, peças que são anunciadas pelos vendedores aos que ali se dispõem a comparecer na véspera do Natal, com o propósito de obter os últimos itens necessários às grandes festas.
O clima que se concebe nos versos do poema – não só o que diz respeito à baixa temperatura sob a neve que cai, como o figurativo, caloroso e hospitaleiro – transporta o leitor para o tempo de infância, no qual as coisas surgem inéditas aos olhares das crianças, levando-as a manifestar com naturalidade o êxtase mais espontâneo.
Neste ensejo, desejo boas festas para todos os leitores deste blog e, por extensão, a todos os que têm ânimo de boa vontade com o próximo.
J.A.R. – H.C.
Patricia K. Page
(1916-2010)
Christmas Eve – Market Square
City of Christmas, here, I love your season,
where in the market square,
bristled and furry
like a huge animal
the fir trees lie
silently waiting buyers.
It’s as if
they hold the secrets of a Christmas sealed –
as statues hold their feelings sealed in stone –
and burst to bells and baubles on their own
within the warmth and lightness of a house
as trees in springtime burst to buds and birds.
The sellers, bunched and bundled,
hold their ears,
blow lazy boas as they call their wares,
and children out of legends pulling sleds,
prop tall trees straight in search of symmetry
and haul the spikey aromatic wonder
of tree through a snowy world.
Almost the tree sings through them in their carols,
almost grows taller in their torsos, is
perfectly theirs, as nothing ever was.
The soft snow falls,
vague smiling drunkards weave
gently as angels through a street of feathers;
balancing bulging parcels with their wings
they tip-toe where the furry monster grows
smaller and hoarier
and nerveless sprawls
flat on its mammoth, unimagined face.
While in far separate houses
all its nerves
spring up like rockets,
unknown children see
a miracle
and unknown children cry
to cut the ceiling, not to lop the tree.
Praça do Mercado no Natal
(Kevin Walsh: artista inglês)
Véspera de Natal – Praça do Mercado
Cidade do Natal, aqui, encantas-me nesta quadra,
onde, na praça do mercado,
eriçados e cerdosos
como um animal enorme,
os abetos jazem
em silêncio à espera de compradores.
É como se
guardassem selados os segredos de um Natal –
feito estátuas que mantêm selados em pedra seus
sentimentos –
e rebentassem, por conta própria, em sinos e
adornos,
em meio à calidez e luminosidade de uma casa,
como árvores, na primavera, a irromper em brotos e
pássaros.
Os vendedores, agrupados e agasalhados,
seguram suas orelhas,
sopram indolentes boás, enquanto anunciam suas
mercadorias,
e crianças, como que saídas de lendas, puxando
trenós,
sustentam árvores altas em busca de simetria
e transportam essa maravilha aromática e pontiaguda
de árvore através de um mundo nevado.
A árvore quase canta por meio deles em suas toadas natalinas,
quase se expande mais alta em seus torsos, sendo
perfeitamente suas, como de modo algum jamais o fora.
Suave cai a neve;
errantes e sorridentes beberrões serpenteiam
morosamente como anjos por uma rua de plumas;
equilibrando pacotes volumosos com suas asas,
põem-se na ponta dos pés onde o monstro cerdoso faz-se
menor e mais esbranquiçado
e, sem nervuras, esparrama-se
aplainado em seu gigantesco e inimaginável rosto.
Enquanto em casas bem separadas
todos os seus nervos
saltam que nem rojões,
anônimas crianças veem
um milagre
e imploram para que se fenda o teto,
não para que se pode a árvore.
Referência:
PAGE, Patricia K. Christmas eve – market
square. In: __________. The metal and the flower. Toronto, CA: McClelland
& Stewart, 1954. 20-21. (Indian File Book n. 7)
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