Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 26 de dezembro de 2021

Cesar Andrade y Cordero - Natal

Evocando natais passados, com fogos de bengala – hoje, com efeitos muito mais artificiosos –, cantorias e cortejos noturnos ao som de guitarras, acepipes da quadra e presença na proverbial Missa do Galo, o poeta, escritor e advogado equatoriano pranteia-se dos efeitos nostálgicos que todas essas ternas lembranças lhe despertam na alma.

O cenário é deveras distante do que, hodiernamente, costuma-se presenciar – uma acirrada corrida consumista, com pouca ou nenhuma referência à mensagem de uma vida devotada ao crescimento espiritual, a um nascer e renascer todo dia para novos horizontes, mais compreensivos, mais compassivos, mais altruístas até: as palavras e os ensinamentos de Cristo permanecem robustos, como divisa para uma vida íntegra.

J.A.R. – H.C.

 

 

Cesar Andrade y Cordero

(1904-1987)

 

Navidad

 

Te evoco entre bengalas Nochebuena de antaño:

vaho de monte y parásitas y musgos bajo el lampo

del Pesebre que luce pastores y rebaño

y esparce las casitas de cartón por el campo.

Rebosa en las alcobas tu tierno olor de hogaza

y fríes los buñuelos junto a los nacimientos.

Con tu hálito materno vas cundiendo la casa

mientras el villancico esponja sus acentos.

 

Al son de las guitarras Ia ronda nocherniega

va a la misa del gallo. La multitud navega

entre el rezo y la copla y el incienso y el canto.

 

Nochebuena opulento gobelino del año:

tus fuegos de artificio de nuevo me hacen daño

y dejo entre tus lianas margaritas de llanto.

 

A Adoração dos Pastores

(Jan Steen: pintor holandês)

 

Natal

 

Evoco-te entre rojões Noite Santa de antanho:

névoa serrana e haustórios e musgos sob o lampo

do Presépio a alumbrar pastores e rebanho

e dispersar casinhas de papelão pelo campo.

 

Vertes nos quartos o terno olor de pão em brasa

E junto aos presépios os bolinhos estralas.

Com teu maternal alento dominas a casa

enquanto o vilancico amplifica as suas escalas.

 

Ao som das guitarras a noturna confraria

vai até a missa do galo. A multidão gloria

entre a reza e a copla e o incenso e o canto.

 

Noite Santa, opulenta tapeçaria do ano:

teus fogos de bengala outra vez me fazem dano

e deixo entre tuas lianas margaridas de pranto.


Elucidário:

Lampo – Clarão súbito e rápido proveniente de descarga elétrica entre duas nuvens ou entre nuvens e a terra, vale dizer, o mesmo que relâmpago;

Vilancico (ou vilancete) – Composição musical adaptada à letra de pequenos poemas para se cantar em festividades religiosas;

Copla – Estrofe, geralmente quadra ou sextilha, empregada em composições de poesia trovadoresca, de assunto ligeiro, destinadas ao canto;

Lianas – Epífitos, trepadeiras.

Referência:

CORDERO, Cesar Andrade y. Navidad. In: __________. Poesía varia. Quito, EC: Editorial Casa de la Cultura Ecuatoriana, 1977. p. 100. (Colleción Básica de Escritores Ecuatorianos; v. 21)

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