Evocando natais passados, com fogos de bengala – hoje, com efeitos muito mais artificiosos –, cantorias e cortejos noturnos ao som de guitarras, acepipes da quadra e presença na proverbial Missa do Galo, o poeta, escritor e advogado equatoriano pranteia-se dos efeitos nostálgicos que todas essas ternas lembranças lhe despertam na alma.
O cenário é deveras distante do que, hodiernamente, costuma-se presenciar – uma acirrada corrida consumista, com pouca ou nenhuma referência à mensagem de uma vida devotada ao crescimento espiritual, a um nascer e renascer todo dia para novos horizontes, mais compreensivos, mais compassivos, mais altruístas até: as palavras e os ensinamentos de Cristo permanecem robustos, como divisa para uma vida íntegra.
J.A.R. – H.C.
Cesar Andrade y Cordero
(1904-1987)
Navidad
Te evoco entre bengalas Nochebuena de antaño:
vaho de monte y parásitas y musgos bajo el lampo
del Pesebre que luce pastores y rebaño
y esparce las casitas de cartón por el campo.
Rebosa en las alcobas tu tierno olor de hogaza
y fríes los buñuelos junto a los nacimientos.
Con tu hálito materno vas cundiendo la casa
mientras el villancico esponja sus acentos.
Al son de las guitarras Ia ronda nocherniega
va a la misa del gallo. La multitud navega
entre el rezo y la copla y el incienso y el canto.
Nochebuena opulento gobelino del año:
tus fuegos de artificio de nuevo me hacen daño
y dejo entre tus lianas margaritas de llanto.
A Adoração dos Pastores
(Jan Steen: pintor holandês)
Natal
Evoco-te entre rojões Noite Santa de antanho:
névoa serrana e haustórios e musgos sob o lampo
do Presépio a alumbrar pastores e rebanho
e dispersar casinhas de papelão pelo campo.
Vertes nos quartos o terno olor de pão em brasa
E junto aos presépios os bolinhos estralas.
Com teu maternal alento dominas a casa
enquanto o vilancico amplifica as suas escalas.
Ao som das guitarras a noturna confraria
vai até a missa do galo. A multidão gloria
entre a reza e a copla e o incenso e o canto.
Noite Santa, opulenta tapeçaria do ano:
teus fogos de bengala outra vez me fazem dano
e deixo entre tuas lianas margaridas de pranto.
Elucidário:
Lampo – Clarão súbito e rápido proveniente de descarga elétrica entre duas nuvens ou entre nuvens e a terra, vale dizer, o mesmo que relâmpago;
Vilancico (ou vilancete) – Composição musical adaptada à letra de pequenos poemas para se cantar em festividades religiosas;
Copla – Estrofe, geralmente quadra ou sextilha, empregada em composições de poesia trovadoresca, de assunto ligeiro, destinadas ao canto;
Lianas – Epífitos, trepadeiras.
Referência:
CORDERO, Cesar Andrade y. Navidad. In:
__________. Poesía varia. Quito, EC: Editorial Casa de la Cultura
Ecuatoriana, 1977. p. 100. (Colleción Básica de Escritores Ecuatorianos; v. 21)
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