Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 12 de dezembro de 2021

José Emilio Pacheco - Crítica da Poesia

Duas vozes poéticas despontam neste poema do vate mexicano, uma a representar um poeta – grafada em itálico – e outra aparentando ser a fala impessoal de um crítico: crítica poética e poesia propriamente dita, desse modo, não se misturam, mesmo que se mantenha a comum tendência de Pacheco ao discurso metapoético.

A voz glosadora detém-se numa perspectiva mordaz, pesarosa por todos os que incorreram em neuroses por não terem sabido viver, lançando mão da poesia como forma de exprimir suas fixações ou o que quer que lhes importunasse, transformando-a, assim, numa “cadela infecta e sardenta”, em franca alusão a um dos mais sólitos usos que se faz da criação poética.

J.A.R. – H.C.

 

José Emilio Pacheco

(1939-2014)

 

Crítica de la Poesía

 

He aquí la lluvia idéntica y su airada maleza.

La sal, el mar deshecho...

Se borra Io anterior, se escribe luego:

Este convexo mar, sus migratorias

y arraigadas costumbres,

ya sirvió alguna vez para hacer mil poemas.

 

(La perra infecta, la sarnosa poesía,

risible variedad de la neurosis,

precio que algunos pagan

por no saber vivir.

La dulce, eterna, luminosa poesía).

 

Quizá no es tiempo ahora.

Nuestra época

nos dejó hablando solos.

 

En: “No me preguntes cómo

pasa el tiempo” (1969)

 

Vida e Esperança I

(Rolando Reyes: pintor salvadorenho)

 

Crítica da Poesia

 

Eis aqui a chuva idêntica e sua

revolta vegetação rasteira

O sal, o mar desfeito...

Apagam-se os versos acima,

e depois se escreve:

Este convexo mar, seus migratórios

e arraigados costumes,

já serviu alguma vez para fazer mil poemas.

 

(A cadela infecta, a sarnenta poesia,

variedade risível de neurose,

o preço que alguns pagam

por não saber viver.

A doce, eterna, luminosa poesia).

 

Talvez agora não seja o momento.

Nossa época

nos deixou falando sozinhos.

 

Em: “Não me perguntes como

o tempo passa” (1969)


Referência:

PACHECO, José Emilio. Crítica de la poesía. In: __________. Contraelegía. Introducción, edición y selección de Francisca Noguerol. 1. ed. Salamanca, ES: Ediciones Universidad de Salamanca, 2009. p. 155. (‘Biblioteca de América’; n. 42)

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