Metáforas do que se passa numa paisagem bucólica, pastoral, ora bem numa granja ou herdade, onde semeadura e colheita são procedimentos habituais, são empregadas por Updike neste breve poema, para empreender associação com práticas eróticas de felação, realizadas à noite por “asseadas secretárias” em seus amantes: equipara-se o ato à floração nos campos ou mesmo às nuvens nos céus.
Ainda que o sexo oral seja praticado às largas hodiernamente, retratá-lo como “lindo” – como Updike o faz – raras vezes se testemunha na literatura, o que poderia denotar alguma ironia do poeta em relação à suspeita de que aquelas mulheres, tão impolutas e de bom desempenho no local de trabalho, voltem mais tarde aos seus amantes e se comportem, então, de um modo completamente distinto. Ou não: talvez o poeta veja mesmo alguma beleza no fato de que mulher e amante compartilhem um vínculo tão intenso ou desmedido, estando ela, por tal razão, disposta a levar a efeito quaisquer práticas para vir a agradá-lo.
J.A.R. – H.C.
John Updike
(1932-2009)
Fellatio
It is beautiful to think
that each of these clean secretaries
at night, to please her lover, takes
a fountain into her mouth
and lets her insides, drenched in seed,
flower into landscapes:
meadows sprinkled with baby’s breath,
hoarse twiggy woods, birds dipping, a multitude
of skies countaining clouds, plowed earth stinking
of its upturned humus, and small farms each
with a silver silo.
O grande masturbador
(Salvador Dalí: pintor espanhol)
Fellatio
É lindo pensar
que cada uma destas asseadas secretárias
à noite, para deleitar seu amante, tome
uma fonte em sua boca
e deixe-a dentro, encharcada em semente,
aflorar-se paisagens:
prados orvalhados pelo sopro infante,
roucas ramagens, pássaros rasantes,
múltiplo céu com nuvens, a terra fétida fendida
com seu humus revirado, em cada pequeno sítio
um silo de prata.
Referência:
UPDIKE, John. Fellatio / Fellatio.
Tradução de Elson Fróes. In: FRÓES, Elson. Poemas traduzidos. Edição
eletrônica, copyright © Elson Fróes, 2003. Em inglês: p. 16; em português: p.
17.
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