Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 22 de agosto de 2021

Oscar Wilde - O Túmulo de Keats

Nesta versão, segunda e definitiva, do soneto dedicado por Wilde ao grande poeta romântico inglês John Keats, morto em Roma (IT) ao 26 (vinte e seis) anos, descreve-se o estado em que se encontrava o seu túmulo à altura em que o escritor irlandês o visitou, em 1877, bem assim como a repercussão que suas obras tiveram na Inglaterra, mesmo a despeito de sua curta vida.

Keats é comparado a São Sebastião (256-286) – nome de origem grega que significa ‘divino’, ‘venerável’ –, martirizado mediante flechas em razão de sua fé cristã, assim como qualificado como um dos melhores, senão o melhor, “poeta-pintor inglês” desde os antigos rapsodos gregos.

Wilde alude ainda à inscrição existente na lápide da tumba, vale dizer, “Aqui jaz aquele cujo nome foi escrito em água”, bem assim ao enredo do poema narrativo “Isabela, ou o pote de manjericão” (1818), de autoria de Keats, adaptado a uma história do Decamerão, de Boccaccio: Wilde seria como a jovem, a verter lágrimas sobre o pote da planta para manter viva a sua memória (pois que ali também estava enterrado o crânio de seu amado Lorenzo, morto por seus irmãos).

J.A.R. – H.C.

 

Oscar Wilde

(1854-1900)

 

The Grave of Keats

 

Rid of the world’s injustice, and his pain,

He rests at last beneath God’s veil of blue:

Taken from life when life and love were new

The youngest of the martyrs here is lain,

Fair as Sebastian, and as early slain.

No cypress shades his grave, no funeral yew,

But gentle violets weeping with the dew

Weave on his bones an ever-blossoming chain.

O proudest heart that broke for misery!

O sweetest lips since those of Mitylene!

O poet-painter of our English Land!

Thy name was writ in water – it shall stand:

And tears like mine will keep thy memory green,

As Isabella did her Basil-tree.

 

Rome, 1877

 

In: “Flowers of Gold” (1881)

 

Tumba de John Keats (1795-1821)

em Roma (IT)

 

O Túmulo de Keats

 

Libertado da injustiça do mundo e de sua dor,

repousa por fim sob o céu azul de Deus:

arrebatado da vida, quando a vida e o amor eram novos,

aqui jaz o mais juvenil dos mártires,

belo como Sebastião e tão precocemente assassinado.

Nenhum cipreste sombreia seu túmulo, nenhum teto funeral,

senão suaves violetas chorando com o carvalho,

tecendo sobre seus ossos uma grinalda sempre florida.

Oh! o coração mais altivo que a desgraça partiu!

Oh! os mais doces lábios depois dos de Mitilene!

Oh! poeta-pintor de nossa terra inglesa!

Teu nome foi escrito na água... e perdurará;

e lágrimas como estas minhas manterão verde tua recordação,

como fizeram as de Isabel com sua alfavaca.

 

Roma, 1877

 

Em: “Flores de Ouro” (1881)


Referências:

Em Inglês

WILDE, Oscar. The grave of Keats. In: __________. Poems with the Ballad of Reading Gaol. 21st ed. London, EN: Methuen & Co. Ltd., 1951. p. 79.

Em Português

WILDE, Oscar. O túmulo de Keats. Tradução de Oscar Mendes. In: __________. Obra completa: volume único. 1. ed.; 7. reimp. Tradução de Oscar Mendes. Rio de Janeiro, RJ: Nova Aguilar, 2007. p. 911. (“Biblioteca de Autores Universais”)

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