O poeta chileno descreve nestas linhas como seriam os verdadeiros poetas, sempre postados frente ao precipício, do qual não sentiriam o menor vestígio de medo, como Ícaros adolescentes a desafiar um mar “aziago”, pervagando nos mistérios que medram e logo se desfazem numa mente fértil – desígnio incorporado ao conatural vaticínio a que são atraídos.
Quase se poderia afirmar que o fotograma arquitetado para o vate prototípico de Rojas nos levaria sempre a um prodígio, tal como o poeta francês Jean Nicolas Arthur Rimbaud (1854-1891), que, num impulso – e ainda muito jovem –, deixou a sua marca na poesia universal, tendo publicado, v.g., “Uma temporada no inferno” (1873), decerto um símile ao precipício a que se reporta Rojas.
J.A.R. – H.C.
Gonzalo Rojas
(1916-2011)
Los verdaderos poetas son de repente
Los verdaderos poetas son de repente:
nacen y desnacen, dicen
misterio y son misterio, son niños
en crecimiento tenaz, entran
y salen intactos del abismo, ríen
con el descaro de los 15, saltan
desde el tablón del aire al roquerío
aciago del océano sin
miedo al miedo, los hechiza
el peligro.
Aman y fosforecen, apuestan
a ser, únicamente a ser, tienen mil ojos
y otras mil orejas, pero
las guardan com el cráneo musical, olfatean
lo invisible más allá del número, el
vaticinio va com ellos, son
lozanía y arden lozanía.
O poeta e sua musa
(Giorgio de Chirico: artista italiano)
Os verdadeiros poetas são de repente
Os verdadeiros poetas são de repente:
nascem e desnascem, dizem
mistério e são mistério, são crianças
em crescimento tenaz, entram
e saem intactos do abismo, riem
com o descaro dos 15, saltam
do trampolim do ar ao rochedo
aziago do oceano sem
medo do medo, os enfeitiça
o perigo.
Amam e fosforescem, apostam
em ser, unicamente em ser, têm mil olhos
e outras mil orelhas, mas
as guardam no crânio musical, farejam
o invisível para lá dos números, o
vaticínio vai com eles, são
frescor e ardem frescor.
Referência:
ROJAS, Gonzalo. Los verdaderos poetas
son de repente / Os verdadeiros poetas são de repente. Tradução de Eric
Nepomuceno. In: __________. Antologia poética de Gonzalo Rojas. Tradução
de Eric Nepomuceno. Edição bilíngue: Espanhol x Português. Brasília, DF:
Editora da UnB, 2018. Em espanhol: p. 50; em português: p. 51. Disponível neste endereço. Acesso em: 12 mai.
2021.
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