Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Jules Supervielle - Homenagem à Vida

Tem-se aqui um poema da autoria de Jules Supervielle (1884-1960), poeta franco-uruguaio, traduzido do francês ao inglês por Joseph Stroud (n. 1943) – de onde o verti ao português. De qualquer modo, para que o leitor possa ter contato direto com o original em francês, apresenta-se um correspondente ‘link’, mais abaixo.

Trata-se, como o próprio o título o subentende, de um hino à vida, manifestado por um presumível estado de felicidade e de gratidão com tudo o que transcorreu ao ente lírico até o momento da escrita do poema: fascínio com os encantos da natureza, abertura para novas experiências do espírito, bem-estar físico e mental e palpável satisfação com o contexto familiar.

J.A.R. – H.C.

 

Jules Supervielle

(1884-1960)

 

Homage to Life

 

(Jules Supervielle, Hommage à la Vie)

 

It is good to have chosen

a living home

and harbored time

in a constant heart,

to have seen one’s hands

touch the world

as an apple

in a small garden,

to have loved the earth,

the moon and the sun,

like old friends

beyond any others,

and to have entrusted

the world to memory

like a luminous horseman

to his black steed,

to have given shape

to these words: wife, children,

and to have served as a shore

for roving continents,

to have come upon the soul

with little oarstrokes

for it is frightened

by a sudden approach.

It is good to have known

the shade under the leaves

and to have felt age

steal over the naked body

accompanying the grief

of dark blood in our veins

and glazing its silence

with the star, Patience,

and to have all these words

stirring in the head,

to choose the least beautiful

and make a little feast for them,

to have felt life

rushed and ill-loved,

to have held it

in this poetry.

 

Passeio

(Pierre-Auguste Renoir: pintor francês)

 

Homenagem à Vida

 

Bom é ter escolhido

um lar vivo

e ocupado o tempo

num coração contínuo;

ter visto as próprias mãos

pousarem sobre o mundo

como em uma maçã

num pequeno jardim;

ter amado a terra,

a lua e o sol,

como familiares

sem quem se lhes assemelhe;

e ter confiado

o mundo à sua memória

como um claro cavaleiro

à sua montaria negra;

ter dado feições

a estas palavras: esposa, filhos;

ter servido como um litoral

para continentes errantes;

ter alcançado a alma

com pequenos empuxos de remo,

para não a assustar

com uma repentina aproximação.

Bom é ter conhecido

a sombra sob a folhagem,

ter sentido a idade

a rastejar sobre o corpo nu,

ter acompanhado a dor

do sangue negro em nossas veias,

ter dourado o seu silêncio

com a estrela da Paciência,

e ter todas essas palavras

a revolver na cabeça,

para escolher as menos belas,

fazendo-lhes um pequeno festim;

ter sentido a vida

apressada e mal amada;

tê-la confinado

nesta poesia.

 

Joseph Stroud

(n. 1943)


Referência:

SUPERVIELLE, Jules. Homage to life. Translated from French to English by Joseph Stroud. In: BOLLER, Diane; SELBY, Don; YOST, Chryss (Eds.). Poetry daily: 366 poems from the world’s most popular poetry website. Rita Dove and Dana Gioia: advisory editors. Naperville, IL: Sourcebooks, 2003. p. 328.

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