Tem-se aqui um poema da autoria de Jules Supervielle (1884-1960), poeta franco-uruguaio, traduzido do francês ao inglês por Joseph Stroud (n. 1943) – de onde o verti ao português. De qualquer modo, para que o leitor possa ter contato direto com o original em francês, apresenta-se um correspondente ‘link’, mais abaixo.
Trata-se, como o próprio o título o subentende, de um hino à vida, manifestado por um presumível estado de felicidade e de gratidão com tudo o que transcorreu ao ente lírico até o momento da escrita do poema: fascínio com os encantos da natureza, abertura para novas experiências do espírito, bem-estar físico e mental e palpável satisfação com o contexto familiar.
J.A.R. – H.C.
Jules Supervielle
(1884-1960)
Homage to Life
(Jules
Supervielle, Hommage à la Vie)
It is good to have chosen
a living home
and harbored time
in a constant heart,
to have seen one’s hands
touch the world
as an apple
in a small garden,
to have loved the earth,
the moon and the sun,
like old friends
beyond any others,
and to have entrusted
the world to memory
like a luminous horseman
to his black steed,
to have given shape
to these words: wife, children,
and to have served as a shore
for roving continents,
to have come upon the soul
with little oarstrokes
for it is frightened
by a sudden approach.
It is good to have known
the shade under the leaves
and to have felt age
steal over the naked body
accompanying the grief
of dark blood in our veins
and glazing its silence
with the star, Patience,
and to have all these words
stirring in the head,
to choose the least beautiful
and make a little feast for them,
to have felt life
rushed and ill-loved,
to have held it
in this poetry.
Passeio
(Pierre-Auguste Renoir: pintor francês)
Homenagem à Vida
Bom é ter escolhido
um lar vivo
e ocupado o tempo
num coração contínuo;
ter visto as próprias mãos
pousarem sobre o mundo
como em uma maçã
num pequeno jardim;
ter amado a terra,
a lua e o sol,
como familiares
sem quem se lhes assemelhe;
e ter confiado
o mundo à sua memória
como um claro cavaleiro
à sua montaria negra;
ter dado feições
a estas palavras: esposa, filhos;
ter servido como um litoral
para continentes errantes;
ter alcançado a alma
com pequenos empuxos de remo,
para não a assustar
com uma repentina aproximação.
Bom é ter conhecido
a sombra sob a folhagem,
ter sentido a idade
a rastejar sobre o corpo nu,
ter acompanhado a dor
do sangue negro em nossas veias,
ter dourado o seu silêncio
com a estrela da Paciência,
e ter todas essas palavras
a revolver na cabeça,
para escolher as menos belas,
fazendo-lhes um pequeno festim;
ter sentido a vida
apressada e mal amada;
tê-la confinado
nesta poesia.
Joseph Stroud
(n. 1943)
Referência:
SUPERVIELLE, Jules. Homage to life. Translated
from French to English by Joseph Stroud. In: BOLLER, Diane; SELBY, Don; YOST, Chryss
(Eds.). Poetry daily: 366 poems from the world’s most popular poetry website.
Rita Dove and Dana Gioia: advisory editors. Naperville, IL: Sourcebooks, 2003. p.
328.
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