Em sete tercetos Empson põe-se a elucubrar sobre a morte e o que ela representaria para a nossa civilização, ou melhor, para budistas, cristãos e até mesmo comunistas: ao final, conclui que, embora se sinta muito em branco com relação ao assunto, o mais indicado é que a maioria das pessoas deva estar preparada para deixá-lo mesmo em branco!
Se me for permitida uma rápida digressão, poderia sugerir uma leitura muito bem fundamentada sobre o tema: a obra “História da Morte no Ocidente”, do historiador francês Philippe Ariès (1914-1984), na qual o autor se detém a afirmar que a fuga da morte parece ser a tentação maior do Ocidente. E essa recusa em sequer pensar na morte, manifestada nos derradeiros versos deste poema de Empson, não nos deixa mentir! (rs)
J.A.R. – H.C.
William Empson
(1906-1984)
Ignorance of Death
Then there is this civilizing love of death, by
which
Even music and painting tell you what else to love.
Buddhists and Christians contrive to agree about
death
Making death their ideal basis for different
ideals.
The communists however disapprove of death
Except when practical. The people who dig up
Corpses and rape them are I understand not
reported.
The Freudians regard the death-wish as fundamental,
Though the ‘clamour of life’ proceeds from its
rival ‘Eros’.
Whether you are to admire a given case for making
less clamour
Is not their story. Liberal hopefulness
Regards death as a mere border to an improving
picture.
Because we have neither hereditary nor direct
knowledge of death
It is the trigger of the literary man’s biggest gun
And we are happy to equate it to any conceived
calm.
Heaven me, when a man is ready to die about
something
Other than himself, and is in fact ready because of
that,
Not because of himself, that is something clear
about himself.
Otherwise I feel very blank upon this topic,
And think that though important, and proper for
anyone to bring up,
It is one that most people should be prepared to be
blank upon.
A vitória de Eros
(Angelica Kauffmann: pintora suíça)
Ignorância da Morte
Então há este amor civilizador pela morte, pelo
qual
Até a música e a pintura dizem-te o que mais há
para amar.
Budistas e cristãos esforçam-se por chegar a acordo
sobre a morte,
Dela lançando mão como base ideal para distintos
ideais.
Os comunistas, contudo, desaprovam a morte,
Exceto quando nela há praticidade. As pessoas que
desenterram
Cadáveres e violam-nos não são, conforme creio,
denunciadas.
Os freudianos consideram fundamental o desejo de
morte,
Ainda que o “clamor de vida” provenha de seu rival
‘Eros’.
Supor-se que se admire um certo caso por fazer
menos clamor
Fica à margem de sua história. A perspectiva
liberal
Reputa a morte como mero linde para um panorama
melhorado.
Em razão de não termos noção direta nem hereditária
da morte,
Torna-se ela o gatilho da maior arma do homem das
letras –
E estamos felizes por equipará-la a qualquer
concebida calma.
Deus meu, quando um homem está disposto a morrer
por algo
Que não seja por si mesmo, e de fato prontifica-se
por razão diversa,
Não por razões que lhe tocam, isso diz com clareza
sobre si próprio.
Sob outra mirada, sinto-me muito no vazio acerca
deste tema,
E penso que embora crucial e oportuno para quem
quer que o suscite,
É um dos que passar em branco deveria ser o mote para a maioria.
Referência:
EMPSON, William. Ignorance of death. In:
RODMAN, Selden (Ed.). An new anthology of modern poetry. New York, NY:
Random House Inc., 1946. p. 335. (“The Modern Library”)
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