Demarcando-se a glosa
tão apenas ao quanto contemplado no infratranscrito excerto do poema, se
poderia afirmar que a voz lírica, de fato, acha-se num contexto limite, aliás,
como o próprio título bem o retrata: quando os amigos, em sua maior parte, já
se foram, reverberam na memória os ecos das palavras que um dia se associaram
às suas falas mais marcantes.
O que mais restaria a
um ser humano, se perdesse a vontade de vir a ser e de estar em algum lugar?! E
partindo de algum lugar, qualquer palavra, segundo a falante, teria maiores
chances de se lhe associar quando originária de um apelo feminino, pois que o coração
delas se deixa “enxaguar” perduravelmente pelas águas que fluem desde o passado
– a exemplo do da mulher paradigmática, às proximidades do rio Sorgue.
J.A.R. – H.C.
Liliane Giraudon
(n. 1946)
Quand il n’y a plus
rien à attendre (extraits)
Quand il n’y a plus
rien à attendre
La poursuite d’un
état
Cette chose ou une
autre
Il est l’heure mais
ce n’est plus
Le moment
Le coeur rincé
L’envie de rire
Le sens d’un mot
Quand la réponse est
dans le titre
Un seul revers
Ou coup du sort
Si tu venais à
manquer simplement une marche
Par exemple
J’ai contrôlé une
insomnie de trois heures à six heures
Agitée par un vin
nommé ‘‘Sang des pierres’’
Un Vaqueyras bu
doucement dans le cri des martinets
A deux pas de la
Sorgue
Une femme disait
J’ai un petit carnet
avec la liste des amis morts
Quand j’éprouve le
besoin
De l’ouvrir
Chaque mot
L’expression d’une
existence entière
L’un d’eux m’appelle
Pourquoi les femmes
appellent-elles
Plus souvent que les
hommes
Le mot est le nom du
lieu d’où nous parlons
Estudo para hip, hip hurra!
(P. S. Krøyer: pintor noruego-dinamarquês)
Quando não há mais
nada a esperar (excertos)
Quando não há mais
nada a esperar
A persecução de um
estado
Esta coisa ou uma
outra
É chegada a hora, porém
já não é mais
O momento
O coração enxaguado
A disposição para rir
O significado de uma
palavra
Quando a resposta
está no título
Um único revés
Ou golpe do destino
Se vinhas a faltar
simplesmente a uma caminhada
Por exemplo
Mantinha sob controle
uma insônia das três às seis horas
Agitada por um vinho nominado
“Sangue das pedras”
Um Vaqueyras (1)
bebido suavemente ao grito dos guilros
A dois passos do
Sorgue (2)
Uma mulher dizia
Tenho um pequeno caderno com a lista dos amigos mortos
Quando sinto a
necessidade
De o abrir
Cada palavra
A expressão de uma existência
inteira
Uma delas chama por
mim
Porque as mulheres
chamam
Com mais frequência do
que os homens
A palavra é o nome do
lugar a partir do qual falamos
Notas:
(1) Mantida a grafia
aposta pela poetisa – Vaqueyras –, embora se deva observar que a marca do
famoso vinho francês apresenta um ‘c’ entre o primeiro ‘a’ e o ‘q’, vale dizer,
‘Vacqueyras’.
(2) O Sorgue é um rio
situado no sudoeste da França, entre o sopé dos Alpes e o rio Ródano.
Referência:
GIRAUDON, Liliane. Quand
il n’y a plus rien à attendre (extrait). In: CAWS, Mary Ann (Ed.). The Yale
anthology of twentieth-century french poetry. A bilingual anthology
(French-English). New Haven, CT & London, EN: Yale University Press, 2004. p.
568 and 570.
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