O poeta e romancista Virgil Suárez, cubano de nascimento, conta-nos como via a figura do pai, na Havana de sua infância, a trabalhar alimentando os animais do zoológico local e a presenciar os fortes aguaceiros que caíam sobre a ilha, almejando um dia, quem sabe, partir para o exílio – o que de fato veio a ocorrer ainda na primeira metade dos anos setenta.
Com efeito, Virgil Suárez chegou aos EUA com doze anos e, hoje, é professor especialista em redação criativa e literatura latina, especialmente cubano-americana, na Florida State University, em Tallahassee. Do passado, temos estas memórias, que se converteram em tema de muitos de seus poemas, bem assim o legado de toda a literatura hispano-americana com que entrou em contato.
J.A.R. – H.C.
Virgil Suárez
(n. 1962)
Aguacero
These downpours of my Cuban childhood
when my father loved to smoke a cigarette
on the patio of the house in Havana
and watch as the sheets of rain bent against
the tin roofs of the shacks in the neighbor’s
yard, the way drops hung from the wire
mesh of the chicken coops and fell one
by one on the dirt, dampening, darkening
as they fell, and he would remove his shirt
after a long day’s work feeding the zoo
animals and he would sit on his makeshift
hammock, lean back, blow smoke up
at the rafters, and he listened to all that rain
as it fell on everything. He imagined
it was raining all over the island, his island,
and the sound of it drumming on the plantain
fronds rose all around him like the clamor
of thousands of cattle birds scattershot
into the heavens, and when he closed his eyes
he dreamt of a man, his hands buried deep
into fertile earth, seeding a son, a wife,
in new life from which so much hardship
sprouted in this life, in the next, exile
a possibility dripping from his fingertips –
then the song of bullfrogs calling home the night.
From: “Banyan” (2001)
Barraco sob uma tormenta
Tela digital
(Piya Singh: artista indiana)
Aguacero (1)
Aqueles aguaceiros da minha infância cubana,
quando meu pai gostava de fumar um cigarro
no pátio da casa em Havana
e ver como os lençóis de chuva dobravam-se contra
os telhados de zinco dos barracos no quintal
do vizinho, a forma como as gotas pendiam da tela
de arame dos galinheiros e caíam uma
a uma sobre o barro, umedecendo-o, escurecendo-o
à medida que caíam, e então despia-se da camisa
depois de um longo dia de trabalho a alimentar os
animais
do zoológico e sentava-se em sua rede
improvisada, recostava-se, soprava fumaça
até as vigas, e escutava toda aquela chuva
a cair sobre tudo. Imaginava
que chovia por toda a ilha, a sua ilha,
o som dela a tamborilar nas frondes das bananeiras
erguendo-se à volta como o clamor
de milhares de garças-boieiras dispersas
nos céus e, quando fechava os olhos,
sonhava com um homem, suas mãos assaz enterradas
em terra fértil, semeando um filho, uma esposa,
em nova vida da qual haviam de brotar tantas agruras
nesta vida, na próxima, o exílio como
uma possibilidade a escorrer-lhe pela ponta dos
dedos –
depois o canto das rãs-touro chamando-o a casa à
noite.
Em: “Bânia” (2001) (2)
Notas:
(1) Mantida a grafia no original em espanhol, por bastante evidente o seu significado em português – aguaceiro, chuvarada, temporal.
(2) Bânia é uma espécie de figueira-brava originária de Bengala.
Referência:
SUÁREZ, Virgil. Aguacero. In: BOLLER,
Diane; SELBY, Don; YOST, Chryss (Eds.). Poetry daily: 366 poems from the
world’s most popular poetry website. Rita Dove and Dana Gioia: advisory
editors. Naperville, IL: Sourcebooks, 2003. p. 292.
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