Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 29 de agosto de 2021

Virgil Suárez - Aguacero

O poeta e romancista Virgil Suárez, cubano de nascimento, conta-nos como via a figura do pai, na Havana de sua infância, a trabalhar alimentando os animais do zoológico local e a presenciar os fortes aguaceiros que caíam sobre a ilha, almejando um dia, quem sabe, partir para o exílio – o que de fato veio a ocorrer ainda na primeira metade dos anos setenta.

Com efeito, Virgil Suárez chegou aos EUA com doze anos e, hoje, é professor especialista em redação criativa e literatura latina, especialmente cubano-americana, na Florida State University, em Tallahassee. Do passado, temos estas memórias, que se converteram em tema de muitos de seus poemas, bem assim o legado de toda a literatura hispano-americana com que entrou em contato.

J.A.R. – H.C.

 

Virgil Suárez

(n. 1962)

 

Aguacero

 

These downpours of my Cuban childhood

when my father loved to smoke a cigarette

on the patio of the house in Havana

and watch as the sheets of rain bent against

the tin roofs of the shacks in the neighbor’s

yard, the way drops hung from the wire

mesh of the chicken coops and fell one

by one on the dirt, dampening, darkening

as they fell, and he would remove his shirt

after a long day’s work feeding the zoo

animals and he would sit on his makeshift

hammock, lean back, blow smoke up

at the rafters, and he listened to all that rain

as it fell on everything. He imagined

it was raining all over the island, his island,

and the sound of it drumming on the plantain

fronds rose all around him like the clamor

of thousands of cattle birds scattershot

into the heavens, and when he closed his eyes

he dreamt of a man, his hands buried deep

into fertile earth, seeding a son, a wife,

in new life from which so much hardship

sprouted in this life, in the next, exile

a possibility dripping from his fingertips –

then the song of bullfrogs calling home the night.

 

From: “Banyan” (2001)

 

Barraco sob uma tormenta

Tela digital

(Piya Singh: artista indiana)

 

Aguacero (1)

 

Aqueles aguaceiros da minha infância cubana,

quando meu pai gostava de fumar um cigarro

no pátio da casa em Havana

e ver como os lençóis de chuva dobravam-se contra

os telhados de zinco dos barracos no quintal

do vizinho, a forma como as gotas pendiam da tela

de arame dos galinheiros e caíam uma

a uma sobre o barro, umedecendo-o, escurecendo-o

à medida que caíam, e então despia-se da camisa

depois de um longo dia de trabalho a alimentar os animais

do zoológico e sentava-se em sua rede

improvisada, recostava-se, soprava fumaça

até as vigas, e escutava toda aquela chuva

a cair sobre tudo. Imaginava

que chovia por toda a ilha, a sua ilha,

o som dela a tamborilar nas frondes das bananeiras

erguendo-se à volta como o clamor

de milhares de garças-boieiras dispersas

nos céus e, quando fechava os olhos,

sonhava com um homem, suas mãos assaz enterradas

em terra fértil, semeando um filho, uma esposa,

em nova vida da qual haviam de brotar tantas agruras

nesta vida, na próxima, o exílio como

uma possibilidade a escorrer-lhe pela ponta dos dedos –

depois o canto das rãs-touro chamando-o a casa à noite.

 

Em: “Bânia” (2001) (2)


Notas:

(1) Mantida a grafia no original em espanhol, por bastante evidente o seu significado em português – aguaceiro, chuvarada, temporal.

(2) Bânia é uma espécie de figueira-brava originária de Bengala.

Referência:

SUÁREZ, Virgil. Aguacero. In: BOLLER, Diane; SELBY, Don; YOST, Chryss (Eds.). Poetry daily: 366 poems from the world’s most popular poetry website. Rita Dove and Dana Gioia: advisory editors. Naperville, IL: Sourcebooks, 2003. p. 292.

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