A combinar efeitos de imagens e de sons, este curto poema de H. D. tanto pode ser interpretado em sua literalidade, quanto é capaz de encetar escólios tropológicos, haja vista a atmosfera de impotência e de opressão que evoca: sob o calor – o elemento oprimente – os frutos da terra deixam de se desimpedir livremente aos propósitos a que foram destinados.
O vento seria a charrua imprescindível para que algum alívio seja experimentado pela voz lírica, o recurso libertador capaz de deixar em frangalhos o mormaço excruciante, cindindo-o, arrefecendo-o, levando-o a bipartir-se por cada um de seus flancos, tornando menos desconfortável o ambiente à volta.
J.A.R. – H.C.
Hilda Doolittle (H. D.)
(1886-1961)
Heat
O wind, rend open the heat,
cut apart the heat,
rend it to tatters.
Fruit cannot drop
through this thick air –
fruit cannot fall into heat
that presses up and blunts
the points of pears
and rounds the grapes.
Cut the heat –
plough through it,
turning it on either side
of your path.
Oliveiras com céu amarelo e sol
(Vincent van Gogh: pintor holandês)
Calor
Ó vento, fende o calor,
segmenta o calor,
despedaça-o em farrapos.
Os frutos não podem desgarrar-se
em meio a esse ar denso –
os frutos não podem cair no calor
que pressiona e embota
as pontas das peras
e arredonda as uvas.
Cinde o calor –
singra através dele,
leva-o a desviar-se por ambos os lados
do teu caminho.
Referência:
DOOLITTLE, Hilda. Heat. In: MAYES,
Frances. The discovery of poetry: a field guide to Reading and writing
poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p. 270-271.
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