Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Hilda Doolittle - Calor

A combinar efeitos de imagens e de sons, este curto poema de H. D. tanto pode ser interpretado em sua literalidade, quanto é capaz de encetar escólios tropológicos, haja vista a atmosfera de impotência e de opressão que evoca: sob o calor – o elemento oprimente – os frutos da terra deixam de se desimpedir livremente aos propósitos a que foram destinados.

O vento seria a charrua imprescindível para que algum alívio seja experimentado pela voz lírica, o recurso libertador capaz de deixar em frangalhos o mormaço excruciante, cindindo-o, arrefecendo-o, levando-o a bipartir-se por cada um de seus flancos, tornando menos desconfortável o ambiente à volta.

J.A.R. – H.C.

 

Hilda Doolittle (H. D.)

(1886-1961)

 

Heat

 

O wind, rend open the heat,

cut apart the heat,

rend it to tatters.

 

Fruit cannot drop

through this thick air –

fruit cannot fall into heat

that presses up and blunts

the points of pears

and rounds the grapes.

 

Cut the heat –

plough through it,

turning it on either side

of your path.

 

Oliveiras com céu amarelo e sol

(Vincent van Gogh: pintor holandês)

 

Calor

 

Ó vento, fende o calor,

segmenta o calor,

despedaça-o em farrapos.

 

Os frutos não podem desgarrar-se

em meio a esse ar denso –

os frutos não podem cair no calor

que pressiona e embota

as pontas das peras

e arredonda as uvas.

 

Cinde o calor –

singra através dele,

leva-o a desviar-se por ambos os lados

do teu caminho.


Referência:

DOOLITTLE, Hilda. Heat. In: MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to Reading and writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p. 270-271.

Nenhum comentário:

Postar um comentário