Este famoso soneto de Shelley sumaria a ideia de que nenhum líder, rei, déspota, ditador ou governante mostra-se incólume aos efeitos do tempo: no caso em apreço, tem-se Ozymandias, nome grego de Ramsés II (~1.279 a.C. – ~1.213 a.C.), terceiro faraó da XIX dinastia egípcia, um dos mais longevos governantes do Egito antigo, em cujo reinado o país gozou de prosperidade, sendo dotado de grandes obras públicas e de monumentos.
Os versos do poema condensam o diálogo havido entre o falante e um viajante recentemente retornado daquele país distante, que lhe descreve a situação da grandiosa estátua meio enterrada nas areias do deserto, um antigo monumento a galardoar o sobredito faraó, agora despedaçado e esquecido naquelas paragens.
J.A.R. – H.C.
P. B. Shelley
(1792-1822)
Retrato por Mary Katharine Curran
Ozymandias
I met a traveller from an antique land
Who said: – Two vast and trunkless legs of stone
Stand in the desert. Near them on the sand,
Half sunk, a shatter’d visage lies, whose frown
And wrinkled lip and sneer of cold command
Tell that its sculptor well those passions read
Which yet survive, stamp’d on these lifeless
things,
The hand that mock’d them and the heart that fed.
And on the pedestal these words appear:
“My name is Ozymandias, king of kings:
Look on my works, ye mighty, and despair!”
Nothing beside remains: round the decay
Of that colossal wreck, boundless and bare,
The lone and level sands stretch far away.
Ozimândias
(Mitry Anderson: pintor norte-americano)
Ozimândias
Ao vir de antiga terra, disse-me um viajante:
Duas pernas de pedra, enormes e sem corpo,
Acham-se no deserto. E jaz, pouco distante,
Afundando na areia, um rosto já quebrado,
De lábio desdenhoso, olhar frio e arrogante:
Mostra esse aspecto que o escultor bem conhecia
Quantas paixões lá sobrevivem, nos fragmentos,
À mão que as imitava e ao peito que as nutria
No pedestal estas palavras notareis:
“Meu nome é Ozimândias, e sou Rei dos Reis:
Desesperai, ó Grandes, vendo as minhas obras!”
Nada subsiste ali. Em torno à derrocada
Da ruína colossal, a areia ilimitada
Se estende ao longe, rasa, nua, abandonada.
Referência:
SHELLEY, P. B. Ozymandias / Ozimândias.
Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. In: __________. Ode ao vento
oeste e outros poemas. Organização e tradução de Péricles Eugênio da Silva
Ramos. Edição bilíngue: Inglês x Português. 1. ed. São Paulo, SP: Hedra, 2009. Em
inglês: p. 42; em português: p. 43.
Nenhum comentário:
Postar um comentário