Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 1 de agosto de 2021

Giacomo Leopardi - O Infinito

Escrito ainda durante a juventude do poeta, em Recanati (IT), sua cidade natal, este poema com quinze versos hendecassílabos retrata uma paisagem idílica, rural, num típico tom bucólico – que, para os poetas pátrios, constituiu os caracteres congeniais da escola literária arcádica –, à qual se mesclam estados de espírito imbricados a elementos circunstanciais.

Nos quatro períodos que o compõem, o poema antepõe o silêncio para além da sebe à própria presença sonora da natureza, como se o poeta quisesse demarcar a elusiva efígie do infinito, de um lado a possibilitar a superação, pelo pensamento, das contingências de momento, e de outro, a imergir o espírito em sentimentos que perscrutam a incerteza do futuro.

J.A.R. – H.C.

 

Giacomo Leopardi

(1798-1837)

Retrato por S. Ferrazzi

 

L’Infinito

 

Sempre caro mi fu quest’ermo colle,

e questa siepe, che da tanta parte

dell’ultimo orizzonte il guardo esclude.

Ma sedendo e mirando, interminati

spazi di là da quella, e sovrumani

silenzi, e profondissima quiete

io nel pensier mi fingo; ove per poco

il cor non si spaura. E come il vento

odo stormir tra queste piante, io quello

infinito silenzio a questa voce

vo comparando: e mi sovvien l’eterno,

e le morte stagioni, e la presente

e viva, e il suon di lei. Così tra questa

Immensità s’annega il pensier mio:

E il naufragar m’è dolce in questo mare.

 

(1819)

 

Luar sobre o Oceano

(Marianna Foster: pintora norte-americana)

 

O Infinito

 

Sempre caro me foi este ermo outeiro

e esta sebe que ao último horizonte

circundando me impede ao longe a vista.

Sentado e contemplando mais além

os espaços, silêncios sobre-humanos

percebendo a uma calma profundíssima,

em pensamento me transfundo. Quase

meu coração se espanta. E a ouvir o vento

que sussurra entre as árvores, comparo

ao silêncio infinito sua voz.

Sobreleva-me então o eterno: evoco

as mortas estações e da presente

sinto a vida através de seus rumores.

Na imensidão mergulho o pensamento

e nestes mares naufragar me é doce.

 

(1819)


Referências:

Em Italiano

LEOPARDI, Giacomo. L’infinito. In: __________. Tutte le poesie e tutte le prose. A cura di Lucio Felici Emanuele Trevi. Edizione integrale. Prima edizione. Roma, IT: Grandi Tascabili Economici Newton, ottobre 1997. p. 120-121.

Em Português

LEOPARDI, Giacomo. O infinito. Tradução de Henriqueta Lisboa. In: LISBOA, Henriqueta (Org.). Antologia escolar de poemas para a juventude. Rio de Janeiro, RJ: Ediouro - Tecnoprint, 1981. p. 135.

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