Escrito ainda durante a juventude do poeta, em Recanati (IT), sua cidade natal, este poema com quinze versos hendecassílabos retrata uma paisagem idílica, rural, num típico tom bucólico – que, para os poetas pátrios, constituiu os caracteres congeniais da escola literária arcádica –, à qual se mesclam estados de espírito imbricados a elementos circunstanciais.
Nos quatro períodos que o compõem, o poema antepõe o silêncio para além da sebe à própria presença sonora da natureza, como se o poeta quisesse demarcar a elusiva efígie do infinito, de um lado a possibilitar a superação, pelo pensamento, das contingências de momento, e de outro, a imergir o espírito em sentimentos que perscrutam a incerteza do futuro.
J.A.R. – H.C.
Giacomo Leopardi
(1798-1837)
Retrato por S. Ferrazzi
L’Infinito
Sempre caro mi fu quest’ermo colle,
e questa siepe, che da tanta parte
dell’ultimo orizzonte il guardo esclude.
Ma sedendo e mirando, interminati
spazi di là da quella, e sovrumani
silenzi, e profondissima quiete
io nel pensier mi fingo; ove per poco
il cor non si spaura. E come il vento
odo stormir tra queste piante, io quello
infinito silenzio a questa voce
vo comparando: e mi sovvien l’eterno,
e le morte stagioni, e la presente
e viva, e il suon di lei. Così tra questa
Immensità s’annega il pensier mio:
E il naufragar m’è dolce in questo mare.
(1819)
Luar sobre o Oceano
(Marianna Foster: pintora norte-americana)
O Infinito
Sempre caro me foi este ermo outeiro
e esta sebe que ao último horizonte
circundando me impede ao longe a vista.
Sentado e contemplando mais além
os espaços, silêncios sobre-humanos
percebendo a uma calma profundíssima,
em pensamento me transfundo. Quase
meu coração se espanta. E a ouvir o vento
que sussurra entre as árvores, comparo
ao silêncio infinito sua voz.
Sobreleva-me então o eterno: evoco
as mortas estações e da presente
sinto a vida através de seus rumores.
Na imensidão mergulho o pensamento
e nestes mares naufragar me é doce.
(1819)
Referências:
Em Italiano
LEOPARDI, Giacomo. L’infinito. In: __________. Tutte le poesie e tutte le prose. A cura di Lucio Felici Emanuele Trevi. Edizione integrale. Prima edizione. Roma, IT: Grandi Tascabili Economici Newton, ottobre 1997. p. 120-121.
Em Português
LEOPARDI,
Giacomo. O infinito. Tradução de Henriqueta Lisboa. In: LISBOA, Henriqueta
(Org.). Antologia escolar de poemas para a
juventude. Rio de Janeiro, RJ: Ediouro - Tecnoprint,
1981. p. 135.
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