A poesia se conecta a um instante remoto na lembrança do prolator da mensagem, ainda na primeira infância, receoso de paragens escuras, como se deambulasse por vias penumbrosas, onde casas sem fim rebrilham numa névoa azulada: as árvores centenárias vivem para contar essa história, submersa no mais absoluto silêncio.
Relembrando de um passado distante – metaforizado na inclemência do desabrochar das tenras folhas que saltam dos galhos das árvores –, o poeta o confronta a um outro cenário que também congrega as suas agruras: a de todos nós, caminhantes neste mundo, absortos em nossos estressantes quotidianos, sem estarmos dispostos a revelar a dor que nos aflige.
J.A.R. – H.C.
Cesare Pavese
(1908-1950)
Poetica
Il ragazzo s ’è accorto che l ’albero vive.
Se le tenere foglie si schiudono a forza
una luce, rompendo spietate, la dura corteccia
deve troppo soffrire. Pure vive in silenzio.
Tutto il mondo è coperto di piante che soffrono
nella luce, e non s’ode nemmeno un sospiro.
È una tenera luce. Il ragazzo non sa
donde venga, è già sera; ma ogni tronco rileva
sopra un magico fondo. Dopo un attimo è buio.
Il ragazzo – qualcuno rimane ragazzo
troppo tempo – che aveva paura del buio,
va per strada e non bada alle case imbrunite
nel crepuscolo. Piega la testa in ascolto
di un ricordo remoto. Nelle strade deserte
come piazze, s’accumula un grave silenzio.
Il passante potrebbe esser solo in un bosco,
dove gli alberi fossero enormi. La luce
con un brivido corre i lampioni. Le case
abbagliate traspaiono nel vapore azzurrino,
e il ragazzo alza gli occhi. Quel silenzio remoto
che stringeva il respiro al passante, è fiorito
nella luce improvvisa. Sono gli alberi antichi
del ragazzo. E la luce è l ’incanto d ’allora.
E comincia, nel diafano cerchio, qualcuno
a passare in silenzio. Per la strada nessuno
mai rivela la pena che gli morde la vita.
Vanno svelti, ciascuno come assorto nel passo,
e grandi ombre barcollano. Hanno visi solcati
e le occhiaie dolenti, ma nessuno si lagna.
Tutta quanta la notte, nella luce azzurrina,
vanno come in un bosco, tra le case infinite.
O garoto sozinho
(Hillel Zhenwirth: artista israelense)
Poética
O menino se deu conta de que a árvore vive.
Se as folhas tenras desabrocham à força,
irrompendo desapiedadas pelo efeito da luz, o rijo
córtex
deve sofrer bastante. Contudo, vive em silêncio.
O mundo inteiro está coberto por plantas que sofrem
sob a luz e nem se ouve sequer um suspiro.
É uma luz terna. O menino ignora
de onde ela provém, já é tarde; mas cada tronco
destaca-se
contra um mágico fundo. Dentro em breve, terá
escurecido.
O menino – alguns permanecem meninos
por muito tempo – que temia a escuridão,
desce a rua e não atenta para as casas escurecidas
ao crepúsculo. Inclina a cabeça para escutar
uma lembrança remota. Nas ruas, desertas
como praças, acumula-se um grave silêncio.
O caminhante poderia estar sozinho num bosque,
onde fossem enormes as árvores. A luz
com um calafrio dispara as lâmpadas da rua. As
casas
resplendentes despontam no vapor azulado,
levando o menino a erguer os olhos. Aquele silêncio
remoto
que susteve a respiração do caminhante, desabrochou
à luz repentina. São as árvores ancestrais
do menino. E a luz é o encanto daquela época.
E alguém começa, no círculo diáfano,
a passar em silêncio. Pela rua, ninguém
jamais revela a dor que aflige a sua vida.
Vão pressurosos, como que absortos em seus passos,
suas grandes sombras a cambalear. Têm os rostos
sulcados
e dolentes olheiras, mas ninguém se queixa.
Durante toda a noite, em meio à luz azulada,
vão como num bosque, entre infinitas casas.
Referência:
PAVESE, Cesare. Poetica. In:
__________. Poesie edite e inedite. A cura di Italo Calvino. Quarta
edizione. Torino, IT: Einaudi, maggio 1967. p. 125-126.
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