Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 14 de agosto de 2021

Cesare Pavese - Poética

A poesia se conecta a um instante remoto na lembrança do prolator da mensagem, ainda na primeira infância, receoso de paragens escuras, como se deambulasse por vias penumbrosas, onde casas sem fim rebrilham numa névoa azulada: as árvores centenárias vivem para contar essa história, submersa no mais absoluto silêncio.

Relembrando de um passado distante – metaforizado na inclemência do desabrochar das tenras folhas que saltam dos galhos das árvores –, o poeta o confronta a um outro cenário que também congrega as suas agruras: a de todos nós, caminhantes neste mundo, absortos em nossos estressantes quotidianos, sem estarmos dispostos a revelar a dor que nos aflige.

J.A.R. – H.C.

 

Cesare Pavese

(1908-1950)

 

Poetica

 

Il ragazzo s ’è accorto che l ’albero vive.

Se le tenere foglie si schiudono a forza

una luce, rompendo spietate, la dura corteccia

deve troppo soffrire. Pure vive in silenzio.

Tutto il mondo è coperto di piante che soffrono

nella luce, e non s’ode nemmeno un sospiro.

È una tenera luce. Il ragazzo non sa

donde venga, è già sera; ma ogni tronco rileva

sopra un magico fondo. Dopo un attimo è buio.

 

Il ragazzo – qualcuno rimane ragazzo

troppo tempo – che aveva paura del buio,

va per strada e non bada alle case imbrunite

nel crepuscolo. Piega la testa in ascolto

di un ricordo remoto. Nelle strade deserte

come piazze, s’accumula un grave silenzio.

Il passante potrebbe esser solo in un bosco,

dove gli alberi fossero enormi. La luce

con un brivido corre i lampioni. Le case

abbagliate traspaiono nel vapore azzurrino,

e il ragazzo alza gli occhi. Quel silenzio remoto

che stringeva il respiro al passante, è fiorito

nella luce improvvisa. Sono gli alberi antichi

del ragazzo. E la luce è l ’incanto d ’allora.

 

E comincia, nel diafano cerchio, qualcuno

a passare in silenzio. Per la strada nessuno

mai rivela la pena che gli morde la vita.

Vanno svelti, ciascuno come assorto nel passo,

e grandi ombre barcollano. Hanno visi solcati

e le occhiaie dolenti, ma nessuno si lagna.

Tutta quanta la notte, nella luce azzurrina,

vanno come in un bosco, tra le case infinite.

 

O garoto sozinho

(Hillel Zhenwirth: artista israelense)

 

Poética

 

O menino se deu conta de que a árvore vive.

Se as folhas tenras desabrocham à força,

irrompendo desapiedadas pelo efeito da luz, o rijo córtex

deve sofrer bastante. Contudo, vive em silêncio.

O mundo inteiro está coberto por plantas que sofrem

sob a luz e nem se ouve sequer um suspiro.

É uma luz terna. O menino ignora

de onde ela provém, já é tarde; mas cada tronco destaca-se

contra um mágico fundo. Dentro em breve, terá escurecido.

 

O menino – alguns permanecem meninos

por muito tempo – que temia a escuridão,

desce a rua e não atenta para as casas escurecidas

ao crepúsculo. Inclina a cabeça para escutar

uma lembrança remota. Nas ruas, desertas

como praças, acumula-se um grave silêncio.

O caminhante poderia estar sozinho num bosque,

onde fossem enormes as árvores. A luz

com um calafrio dispara as lâmpadas da rua. As casas

resplendentes despontam no vapor azulado,

levando o menino a erguer os olhos. Aquele silêncio remoto

que susteve a respiração do caminhante, desabrochou

à luz repentina. São as árvores ancestrais

do menino. E a luz é o encanto daquela época.

 

E alguém começa, no círculo diáfano,

a passar em silêncio. Pela rua, ninguém

jamais revela a dor que aflige a sua vida.

Vão pressurosos, como que absortos em seus passos,

suas grandes sombras a cambalear. Têm os rostos sulcados

e dolentes olheiras, mas ninguém se queixa.

Durante toda a noite, em meio à luz azulada,

vão como num bosque, entre infinitas casas.


Referência:

PAVESE, Cesare. Poetica. In: __________. Poesie edite e inedite. A cura di Italo Calvino. Quarta edizione. Torino, IT: Einaudi, maggio 1967. p. 125-126.

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