O poeta barroco baiano parece, com um hiato de séculos, aludir a certa judicatura de Pindorama nos dias presentes, que, distanciando-se daquilo que se poderia denominar por autêntica justiça, resolvera agir como explícitas intenções políticas, como restou demonstrado pelas conversas trazidas à ciência de todos pelo ‘hacker’ Walter Delgatti Neto.
A própria Suprema Corte do país, que “embarcara” nos remates sentenciados pela turma de Curitiba, depois que as aludidas conversas vieram à tona, resolveu voltar atrás – à exceção de alguns de seus ministros –, porque por demais acintosas as infrações praticadas contra o Estado de Direito, seus valores e princípios constitucionais.
J.A.R. – H.C.
Manoel Botelho de Oliveira
(1636-1711)
Aos maus juízes
Que julgas, ó ministro de justiça?
Por que fazes das leis arbítrio errado?
Cuidas que dás sentença sem pecado,
Sendo que algum respeito mais te atiça:
Para obrar os enganos da injustiça?
Bem que teu peito vive confiado,
O entendimento tens todo arrastado
Por amor, ou por ódio, ou por cobiça.
Se tens amor, julgaste o que te manda;
Se tens ódio, no inferno tens o pleito,
Se tens cobiça, é bárbara, execranda.
Oh miséria fatal de todo o peito!
Que não basta o direito da demanda,
Se o Julgador te nega esse direito.
Jael e Sísera
(Artemisia Gentileschi: pintora italiana)
Referência:
OLIVEIRA, Manoel Botelho de. Aos maus
juízes. In: VARNHAGEN, F. A. (Organização e Ensaio). Florilégio da poesia
brasileira: coleção das mais notáveis composições dos poetas brasileiros
falecidos, contendo as biografias de muitos deles, tudo precedido de um ensaio
histórico sobre as letras no Brasil. Tomo I. Lisboa, PT: Imprensa Nacional,
1850. p. 146.
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