A voz lírica, neste poema do poeta e diplomata chileno, enceta um hipotético diálogo com as estrelas, convidando-as a entrar em seu dormitório, enquanto, ainda insone, divaga sobre os parentes ou conhecidos que, desaparecidos, cada uma delas representaria: por que não se habilitariam as estrelas a porem-se em linha, como nos letreiros de anúncios, para que o falante pudesse nomeá-los um a um?! – pergunta-se.
De fato, não se trata de um diálogo, senão de um monólogo entre absorto e gracioso, vivenciado pelo prolator da mensagem no isolamento do seu quarto, pouco antes de cair nos braços de Morfeu: tudo o que imagina o sujeito poderia também ser matéria de um sonho que, no fluxo das próximas horas, certamente lhe sobrevirá durante o repouso. Afinal, tantas são as metáforas de que são feitos os sonhos!
J.A.R. – H.C.
Julio Barrenechea
(1910-1979)
Tertulia con las Estrellas
Adelante.
Adelante.
Pasen ustedes señoritas estrellas.
Si se han de estar toda la noche asomadas a mi
ventana,
mejor pasen adentro
si algo les interesa.
Pasen no más sin miedo,
que si alguien me pregunta qué es lo que hay en mi
cuarto,
yo le diré que son luciérnagas.
Perdón que las reciba en ésta bata
dé soledad gastada.
Es mi traje de casa.
No señoritas,
no es un trozo de luna,
Este es mi lecho,
cuya blancura rige mi madre.
Ustedes que se miran en las aguas tendidas,
no vayan a asustarse si se hallan verticales
al verse en el espejo del ropero.
Ni vayan a creer que yo fabrico estrellas
porque he encéndido un fósforo.
También les interesa el lavatorio?
Pues bien, es ahí donde
mañana tras mañana,
dejo caer al agua
mis caras trasnochadas.
Ya deben irse?
Bueno, Hasta otra noche,
Pero antes que se vayan,
por qué no se acomodan como letras de avisos
luminosos,
mientras les voy dictando nombres desaparecidos?
Después,
para que arriba no les sientan la hora de llegada,
pregúntenle a mi sueño
como se entró en puntillas por mis ojos cerrados.
Constelações: estrela da manhã
(Joan Miró: pintor espanhol)
Reunião das Estrelas
Entrem.
Entrem.
Queiram entrar, senhoritas estrelas.
Se hão de ficar a noite inteira espiando pela
janela
é melhor que entrem
se alguma coisa lhes interessa.
Podem entrar sem receio.
Se alguém perguntar o que é isto no meu quarto
direi que são vaga-lumes.
Perdoem recebê-las neste traje
gasto na solidão.
É meu traje de casa.
Não, senhoritas,
isto não é um pedaço de lua,
é minha cama
cuja brancura é mantida por minha mãe.
Vocês, habituadas a se mirarem em águas planas,
não se assustem se se virem verticais
no espelho do guarda-roupa.
Quando eu acender um fósforo
não pensem que fabrico estrelas.
O lavatório também lhes interessa?
Pois bem, é aí
que todas as manhãs
mergulho n’água
a cara tresnoitada.
Oh! já se vão?
Bem. Até outra noite.
Mas antes de irem embora
porque não se alinham como letras de anúncios
luminosos
enquanto lhes vou ditando nomes desaparecidos?
Depois,
para que lá em cima não notem a hora da chegada,
perguntem ao meu sonho
como entrou de mansinho em meus olhos fechados.
Referências:
Em Espanhol
BARRENECHEA, Julio. Tertulia con las estrelas. In: __________. El mitin de las mariposas: poemas. [Santiago, CL]: Editorial Minarete, 1930. p. 13-14. Disponível neste endereço. Acesso em: 18 jul. 2021.
Em Português
BARRENECHEA, Julio. Reunião das
estrelas. Tradução de Dante Milano. In: LISBOA, Henriqueta (Org.). Antologia
escolar de poemas para a juventude. Rio de Janeiro, RJ: Ediouro -
Tecnoprint, 1981. p. 103-104.
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