Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 3 de julho de 2021

Delmira Agustini - Serpentina

Tudo o que se difunde como definição de si própria, neste poema de Agustini, justifica o título que lhe foi atribuído, a sugerir quer os atributos concernentes às serpentes (algo assemelhados aos dos vampiros), quer às tiras de papel enrolado que, em dias de carnaval, as pessoas atiram umas nas outras, mantendo-as momentaneamente sujeitas por uma das extremidades.

Tem-se aqui a mulher metaforizada em serpente, réptil que submete a presa, inoculando-lhe um veneno paralisante: seus olhos encantam e hipnotizam a vítima, enquanto os movimentos sedutores transformam-na numa figura que vibra voluptuosamente. Eis a ladina Medusa, górgona que leva o amado para o vórtice de um amor sinistro.

J.A.R. – H.C.

 

Delmira Agustini

(1886-1914)

 

Serpentina

 

En mis sueños de amor, ¡yo soy serpiente!

Gliso y ondulo como una corriente;

Dos píldoras de insomnio y de hipnotismo

Son mis ojos; la punta de encanto

Es mi lengua... ¡y atraigo como el llanto!

Soy un pomo de abismo.

 

Mi cuerpo es una cinta de delicia,

Glisa y ondula como una caricia...

 

Y en mis sueños de odio, ¡soy serpiente!

Mi lengua es una venenosa fuente;

Mi testa es la luzbélica diadema,

Haz de la muerte, en un fatal soslayo

Son mis pupilas; y mi cuerpo en gema

¡Es la vaina del rayo!

 

Si así sueño mi carne, así es mi mente:

Um cuerpo largo, largo de serpiente,

Vibrando eterna, ¡voluptuosamente!

 

En: “Los astros del abismo” (1924)

 

Mulher-Serpente

(Michal Kwarciak: pintor polonês)

 

Serpentina

 

Em meus sonhos de amor, eu sou serpente!

Rastejo e ondulo feito corrente;

Duas pílulas de insônia e hipnotismo

São meus olhos; a ponta de encanto

É minha língua... e atraio qual pranto!

Sou um pomo de abismo.

 

Meu corpo é uma cinta de delícia,

Rasteja e ondula feito carícia...

 

E em meus sonhos de ódio, sou serpente!

É minha língua venenosa fonte;

Minha fronte o luzbélico diadema,

Face da morte, em um fatal soslaio

São minhas pupilas; e o corpo em gema

É a bainha do raio!

 

Tal como a carne em sonhos, tenho a mente;

Um corpo longo, longo de serpente,

Vibrando eterna, voluptuosamente!

 

Em: “As estrelas do abismo” (1924)


Referência:

AGUSTINI, Delmira. Serpentina. In: __________. Poetics of eros: selected poetry of Delmira Agustini. A bilingual edition: Spanish x English. Edited and translated by Alejandro Cáceres with a foreword by Willis Barnstone. Carbondale, IL: Southern Illinois University Press, 2003. p. 158.

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