Tudo o que se difunde como definição de si própria, neste poema de Agustini, justifica o título que lhe foi atribuído, a sugerir quer os atributos concernentes às serpentes (algo assemelhados aos dos vampiros), quer às tiras de papel enrolado que, em dias de carnaval, as pessoas atiram umas nas outras, mantendo-as momentaneamente sujeitas por uma das extremidades.
Tem-se aqui a mulher metaforizada em serpente, réptil que submete a presa, inoculando-lhe um veneno paralisante: seus olhos encantam e hipnotizam a vítima, enquanto os movimentos sedutores transformam-na numa figura que vibra voluptuosamente. Eis a ladina Medusa, górgona que leva o amado para o vórtice de um amor sinistro.
J.A.R. – H.C.
Delmira Agustini
(1886-1914)
Serpentina
En mis sueños de amor, ¡yo soy serpiente!
Gliso y ondulo como una corriente;
Dos píldoras de insomnio y de hipnotismo
Son mis ojos; la punta de encanto
Es mi lengua... ¡y atraigo como el llanto!
Soy un pomo de abismo.
Mi cuerpo es una cinta de delicia,
Glisa y ondula como una caricia...
Y en mis sueños de odio, ¡soy serpiente!
Mi lengua es una venenosa fuente;
Mi testa es la luzbélica diadema,
Haz de la muerte, en un fatal soslayo
Son mis pupilas; y mi cuerpo en gema
¡Es la vaina del rayo!
Si así sueño mi carne, así es mi mente:
Um cuerpo largo, largo de serpiente,
Vibrando eterna, ¡voluptuosamente!
En: “Los astros del abismo” (1924)
Mulher-Serpente
(Michal Kwarciak: pintor polonês)
Serpentina
Em meus sonhos de amor, eu sou serpente!
Rastejo e ondulo feito corrente;
Duas pílulas de insônia e hipnotismo
São meus olhos; a ponta de encanto
É minha língua... e atraio qual pranto!
Sou um pomo de abismo.
Meu corpo é uma cinta de delícia,
Rasteja e ondula feito carícia...
E em meus sonhos de ódio, sou serpente!
É minha língua venenosa fonte;
Minha fronte o luzbélico diadema,
Face da morte, em um fatal soslaio
São minhas pupilas; e o corpo em gema
É a bainha do raio!
Tal como a carne em sonhos, tenho a mente;
Um corpo longo, longo de serpente,
Vibrando eterna, voluptuosamente!
Em: “As estrelas do abismo” (1924)
Referência:
AGUSTINI, Delmira. Serpentina. In:
__________. Poetics of eros: selected poetry of Delmira Agustini. A
bilingual edition: Spanish x English. Edited and translated by Alejandro
Cáceres with a foreword by Willis Barnstone. Carbondale, IL: Southern Illinois University
Press, 2003. p. 158.
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