Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Roberto Piva - Jorge de Lima, panfletário do Caos

Atraem-me as visões que têm os poetas sobre o que representa a obra e a vida de um outro poeta, a exemplo deste lírico relato sobre o legado de Jorge de Lima (1893-1953), o intitulado “panfletário do caos”: foi assim que, no derradeiro dia de 1961, o poeta paulistano adjetivou o vate das Alagoas, depois de compreender-lhe as composições.

Cada verso do poema faz alusão a pontos determinantes no conjunto da obra de Lima, sempre afeita a honrar os injustiçados do mundo em seus estirados poemas metafísicos, suas abstrações moldadas por um crebro estuo místico ou religioso, deixando transparecer o lado menos serenado de sua própria personalidade.

J.A.R. – H.C.

 

Roberto Piva

(1937-2010)

 

Jorge de Lima, panfletário do Caos

 

Foi no dia 31 de dezembro de 1961 que te compreendi Jorge de Lima

enquanto eu caminhava pelas praças agitadas pela melancolia presente

na minha memória devorada pelo azul

eu soube decifrar os teus jogos noturnos

indisfarçável entre as flores

uníssonos em tua cabeça de prata e plantas ampliadas

como teus olhos crescem na paisagem Jorge de Lima e como tua boca

palpita nos bulevares oxidados pela névoa

uma constelação de cinza esboroa-se na contemplação inconsútil

de tua túnica

e um milhão de vagalumes trazendo estranhas tatuagens no ventre

se despedaçam contra os ninhos da Eternidade

é neste momento de fermento e agonia que te invoco grande alucinado

querido e estranho professor do Caos sabendo que teu nome deve

estar como um talismã nos lábios de todos os meninos

 

Flores: fantasia de prata

(Irini Karpikioti: artista grega)


Referência:

PIVA, Roberto. Jorge de Lima, panfletário do caos. In: __________. Paranoia. Fotografado e desenhado por Wesley Duke Lee. 2. ed. São Paulo, SP: Instituto Moreira Salles e Jacarandá, 2000. p. 83-85.

Nenhum comentário:

Postar um comentário