Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Carlos Nejar - Aos amigos e inimigos

Amigos e inimigos do falante agora se unem no degredo, num ciclo da existência que desde logo se mostra finado para aquele que não se sente um “escolhido” dos deuses – ou não abrigado em seus círculos –, com o que se relativiza tê-los tido numa condição ou noutra, tanto mais que centrado em si mesmo e em seus “íntimos infernos”.

Tem-se um sentir à volta de certo remorso em relação aos mortos, plasmado em “mágico convívio”, remorso que erode o espírito lentamente e que, por fim, o falante acaba por assimilar à sua própria individualidade: servido de amigos e inimigos – e já distante de grande parte deles –, paira, em relação a estes, um sopro eremítico e elegíaco nas palavras de que lança mão o poeta.

J.A.R. – H.C.

 

Carlos Nejar

(n. 1939)

 

Aos amigos e inimigos

 

De amigos e inimigos

fui servido,

agora estamos unidos,

atrelados ao degredo.

 

Nunca fui o escolhido

onde os deuses me puseram.

Nem sou deles, sou de mim

e dos íntimos infernos.

 

Não.

Não me entreguem aos mortos,

os filhos que me pariram

e plasmei com meus remorsos

no seu mágico convívio.

 

De amigos e inimigos

fui servido

e com tão finada vida

e alegados motivos,

que ao dar por eles, já partira

e quando dei por mim, não estava vivo.

 

Amigos

(Dietrich Schuchardt: pintor alemão)


Referência:

NEJAR, Carlos. Aos amigos e inimigos. In: GARCÍA, Xosé Lois. Antologia da poesia brasileira / Antología de la poesía brasileña. Edición bilingüe. Santiago de Compostela, Galiza, U.E.: Laiovento, 2001. p. 284.

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