Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 10 de julho de 2021

Carlito Azevedo - Lagoa

Os “veios profundos, invisíveis e subterrâneos” do amor de uma menina ao seu gato torna-se ainda mais manifesto quando ela, para não o acordar depois de um movimento de estiro das patas, “até seu olhar põe na ponta dos pés”: o bichano, assim, pode continuar em descanso, sonhando, talvez, com algum pássaro entre os dentes.

A cena desenrola-se, seguramente, ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, de onde se pode ver o relevo montanhoso à volta, onde o sol incide, com os seus reflexos a acobrear as águas da lagoa: nesse instantâneo do poeta percebe-se a combinatória de um elenco de fatos naturais a dar coesão a um flagrante de harmonia e encantamento.

J.A.R. – H.C.

 

Carlito Azevedo

(n. 1961)

 

Lagoa

 

Tendo às costas

(como asas pensas que a tarde

abre e fecha) o dorso cobreado da

montanha e os reflexos de cobre da lagoa,

a menina com o gato traduz, à mais que perfeição,

os veios profundos, invisíveis e subterrâneos,

a nos unir a quem amamos, e quando ele lhe

estira sobre o colo as patas ponteadas,

ela, para não acordá-lo, até seu

olhar põe na ponta dos pés.

 

Lagoa Rodrigo de Freitas

(Félix-Émile Taunay: pintor francês)


Referência:

AZEVEDO, Carlito. Lagoa. In: __________. Sob a noite física: poemas. Rio de Janeiro, RJ: Sette Letras, 1997. p. 21.

ö

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