Não se poderia saber, de pronto, o que representa o “nó” que nos é retratado por Kunitz neste seu poema: um nó do qual ele procura se desfazer, selando-o, mas que, como broto, prolifera-se em rebentos, continuando a “sangrar” no mundo que o falante partilha, cá do lado de dentro da porta, com a provável companheira.
Um nó na verga de madeira resultaria da poda ou da perda de um galho, mas, pelo teor do poema, não se consegue apreender qual teria sido essa poda ou perda para o poeta e o porquê desse prodigioso poder para se multiplicarem as ramas. Certo é que a voz lírica se desapega do problema e, num bater de asas, voeja por entre os galhos que se esparramam.
J.A.R. – H.C.
Stanley Kunitz
(1905-2006)
The Knot
I’ve tried to seal it in,
that cross-grained knot
on the opposite wall,
scored in the lintel of my door,
but it keeps bleeding through
into the world we share.
Mornings when I wake,
curled in my web,
I hear it come
with a rush of resin
out of the trauma
of its lopping-off.
Obstinate bud,
sticky with life,
mad for the rain again,
it racks itself with shoots
that crackle overhead,
dividing as they grow.
Let be! Let be!
I shake my wings
and fly into its boughs.
Nó
(Victor Molev: artista russo)
O Nó
Tentei selá-lo,
aquele nó revessado
na parede oposta,
vincado no dintel da minha porta,
mas ele continua a sangrar por inteiro
no mundo que partilhamos.
De manhã, quando desperto,
envolto em minha trama,
ouço-o vir
com um jorro de resina
a sair do trauma
de sua poda.
Obstinado broto,
pegajoso com a vida,
louco de novo pela chuva,
revolve-se com os rebentos
que estralam por cima,
dividindo-se à medida que crescem.
Deixemos estar! Deixemos estar!
Agito minhas asas
e voo por entre seus ramos.
Referência:
KUNITZ, Stanley. The knot. In: MAYES,
Frances. The discovery of poetry: a field guide to Reading and writing
poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p. 102.
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