Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 13 de julho de 2021

Menotti del Picchia - Os Mortos

Os mortos, parentes ou amigos, de quem se encontra vivo, continuam vivos na memória de quem aqui ficou, com prazo de sobrevivência equivalente ao da sobrevida que o vivo lhes dá na mente, ou mais bem, em alguns casos, morrem definitivamente quando morre fisicamente o que lhes abrigava de forma indelével no espírito.

Picchia é mais enfático quanto à morte que ocasionamos aos mortos, no momento em que “os enterramos em nós mesmos”: tal espécie de “enterro” representa muito mais que o enterro fático do falecido, pois atira no mais completo olvido uma história materializada com anelo de um fogo eterno, todavia para sempre expirado.

J.A.R. – H.C.

 

Menotti del Picchia

(1892-1988)

 

Os Mortos

 

E inútil que cubram de terra os corpos.

 

Eles saem do chão

não como fantasmas

mas vivos.

 

Sentam-se às nossas mesas

comem soturnos nossa sopa misturada com lágrimas.

 

Sabemos que não são imortais

e que essa sobrevivência tem prazo.

 

Um dia, porém

 

quando?

 

(dessa data nem nos damos conta)

 

evaporam-se...

 

Somos nós que matamos nossos mortos

e os enterramos em nós mesmos.

 

Sem título

(Marsi Paribatra: artista tailandesa)


Referência:

PICCHIA, Menotti del. Os mortos. In: CONGÍLIO, Mariazinha (Selecção e Coordenação). Antologia de poetas brasileiros. 1. ed. Lisboa, PT: Universitária Editora, 2000. p. 143.

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