Com manifesta intertextualidade em relação ao famoso poema de Gonçalves Dias – “Canção do Exílio” –, esta canção de Quintana retrata um universo vivenciado pelo poeta que está para além das delimitações do espaço e de tempo: nele, são invisíveis as aves e as palmeiras, e as horas – há tantas para todos os gostos.
Mas quando reflete sobre a inafastável díade espaço x tempo – “Mas onde o instante de agora? Mas onde a palavra ‘onde’?” – a voz lírica percebe a ingratidão bidirecional exteriorizada pela terra e pelo filho: percebe-se ela exilada no próprio torrão natal – pelo que sente necessidade de entoar a “Canção do Exílio” do advogado e poeta maranhense, neste exato tempo e lugar.
J.A.R. – H.C.
Mario Quintana
(1906-1994)
Uma Canção
Minha terra não tem palmeiras...
E em vez de um mero sabiá,
Cantam aves invisíveis
Nas palmeiras que não há.
Minha terra tem relógios,
Cada qual com a sua hora
Nos mais diversos instantes...
Mas onde o instante de agora?
Mas onde a palavra “onde”?
Terra ingrata, ingrato filho,
Sob os céus de minha terra
Eu canto a Canção do Exílio.
Em: “Apontamentos de história sobrenatural”
(1976)
Falando de Amor
(Antonio de A. Pereira / Totonho: pintor baiano)
Referência:
QUINTANA, Mario. Uma canção. In:
RIEDEL, Dirce; LEMOS, Carlos; BARBIERI, Ivo; CASTRO, Therezinha (Orgs.). Literatura
brasileira em curso. Rio de Janeiro, GB: Edições Bloch, 1968. p. 378.
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