Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 25 de julho de 2021

Mario Quintana - Uma Canção

Com manifesta intertextualidade em relação ao famoso poema de Gonçalves Dias – “Canção do Exílio” –, esta canção de Quintana retrata um universo vivenciado pelo poeta que está para além das delimitações do espaço e de tempo: nele, são invisíveis as aves e as palmeiras, e as horas – há tantas para todos os gostos.

Mas quando reflete sobre a inafastável díade espaço x tempo – “Mas onde o instante de agora? Mas onde a palavra ‘onde’?” – a voz lírica percebe a ingratidão bidirecional exteriorizada pela terra e pelo filho: percebe-se ela exilada no próprio torrão natal – pelo que sente necessidade de entoar a “Canção do Exílio” do advogado e poeta maranhense, neste exato tempo e lugar.

J.A.R. – H.C.

 

Mario Quintana

(1906-1994)

 

Uma Canção

 

Minha terra não tem palmeiras...

E em vez de um mero sabiá,

Cantam aves invisíveis

Nas palmeiras que não há.

 

Minha terra tem relógios,

Cada qual com a sua hora

Nos mais diversos instantes...

Mas onde o instante de agora?

 

Mas onde a palavra “onde”?

Terra ingrata, ingrato filho,

Sob os céus de minha terra

Eu canto a Canção do Exílio.

 

Em: “Apontamentos de história sobrenatural” (1976)

 

Falando de Amor

(Antonio de A. Pereira / Totonho: pintor baiano)


Referência:

QUINTANA, Mario. Uma canção. In: RIEDEL, Dirce; LEMOS, Carlos; BARBIERI, Ivo; CASTRO, Therezinha (Orgs.). Literatura brasileira em curso. Rio de Janeiro, GB: Edições Bloch, 1968. p. 378.

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