Na primeira metade deste poema, a voz lírica dá-nos ciência de que uma resposta pela qual todos estavam à procura não se tornou viável, pois as pessoas consultadas ou os meios empregados não se mostraram hábeis em provê-la: sequer ao leitor é dada a exata explicação sobre em que consistiria tal resposta, embora se possam levantar hipóteses.
Isto porque, na segunda metade, são declinadas inúmeras mudanças ocorridas na natureza, pelo efeito de uma estação que mais parece a primavera; tudo floresce e frutifica em diversos locais da terra – Austrália, China, Canadá –, pelo que se deduz que o sentido maior para a existência não é mais que fruir cada momento em sua beleza, gratulando-se por estar vivo e poder participar desse átimo da História. O que soçobra são as “misérias da filosofia”.
J.A.R. – H.C.
Clarence Major
(n. 1936)
What We Wanted
The man in the white tunic didn’t have the answer.
In the wilderness we dreamed of finding it.
The girl feeding pigeons did not have it.
The fortune-teller didn’t have the answer.
The dooms-day rider didn’t have it.
The trusted men opening the seal didn’t find the
answer.
We probably blew our trumpets all around it.
The artist painted herself holding a mirror.
She tried to find it in her pose – deflected.
The keepers of the dark didn’t have it.
The unknown man didn’t have the answer.
Attendees at the feast didn’t have it.
The revolutionary didn’t find it in bloodshed.
The birth of Venus offered no clue to it.
It was not in the mocking bird’s crazy song.
The people on the dance floor couldn’t find it.
The three women at the gate were clueless.
Even their flirty smiles didn’t help.
Medusa with a head full of snakes didn’t have the
answer!
Yet poppies went on blooming, blooming, blooming.
In lilac season the sweet-smelling earth filled the
ar.
Marigolds spreading across the land!
In Australia the great myrtles were standing tall.
In western China the cherry trees were blooming.
With its scaly bark the white oak of Quebec
sparkled.
Junipers, silver furs, beech and lime had their
turn.
The camellias of the evergreen were glowing red in
sunlight.
We praised forget-me-nots in upper windows!
The lilies and the larkspur were blooming wild!
And we praised the persimmon trees with their
possum wood!
O Nascimento de Vênus
(Sandro Botticelli: pintor italiano)
O Que Buscávamos
O homem da túnica branca não tinha a resposta.
No deserto, sonhamos em encontrá-la.
A menina que alimentava os pombos não a tinha.
A cartomante não tinha a resposta.
Os homens de confiança que desprenderam o selo
não encontraram a resposta.
Provavelmente sopramos nossas trombetas à sua
volta.
A artista se pintou segurando um espelho.
Tentou encontrá-la em sua pose – defletida.
Os guardiões das trevas não a tinham.
O homem desconhecido não tinha a resposta.
Os participantes no banquete não a tinham.
O revolucionário não a encontrou no banho de
sangue.
O nascimento de Vênus não ofereceu qualquer pista
a respeito.
Não estava ela no canto louco da ave zombeteira.
As pessoas na pista de dança não conseguiam encontrá-la.
As três mulheres ao portão estavam sem pistas.
Nem mesmo ajudaram os seus sorrisos sedutores.
A Medusa, com a cabeça cheia de serpentes, não
tinha
a resposta!
No entanto, as papoulas continuaram a florir, a
florir,
a florir.
Na estação de floração dos lilases, o ar cobriu-se
do aroma
doce do solo.
As calêndulas espalharam-se por toda a terra!
Na Austrália, as grandes murtas erguiam-se de pé.
No oeste da China, as cerejeiras estavam em flor.
Com sua casca escamosa, o carvalho branco de Québec
cintilava.
Zimbros, abetos prateados, faias e tílias tiveram a
sua vez.
As camélias das sempre-verdes brilhavam vermelhas
à luz do sol.
Entoamos loas aos miosótis nas janelas superiores!
Os lírios e os delfínios estavam a florescer
selvagens!
E exaltamos os diospireiros, fartos dos diletos
frutos
dos gambás!
Referência:
MAJOR, Clarence. What we wanted. In: MESSERLI,
Douglas (Edition & Note). The pip anthology of world poetry of the 21st
century. Volume 10: Selected contemporary american poets. København, DK
& Los Angeles, CA: Green Integer, 2017. p. 21. Disponível neste endereço. Acesso em: 28 jun. 2021.
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