Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Henriqueta Lisboa - Maturidade

Havendo chegado à maturidade, a poetisa mineira revolve os sentimentos que a temporada lhe suscita – feito amêndoas polpudas e macias, de sabor doce-amargo, vale dizer, como as experiências que contam a história de uma vida , ponto de culminância a partir do qual as encostas, pouco a pouco, perdem altitude, até que desvaneçam em contato com o mar.

A voz lírica sente o peso desse momento, no qual o velame acha-se ancorado ao porto, no aguardo de uma jornada rumo à eternidade: o instante mesmo do apogeu é o indicativo a demarcar um quartel finito para nossos corpos físicos, nossas humanas pretensões, sem que haja cesuras na seta irretornável do tempo.

J.A.R. – H.C.

 

Henriqueta Lisboa

(1901-1985)

 

Maturidade

 

Maturidade, sinto-te na polpa

dos dedos: abundante e macia.

Saturada de sábias,

doce-amargas amêndoas.

 

És o tálamo para a morte,

o velame no porto.

 

Sob teu musgo, a pedra.

O silêncio em teu seio é prata

a sofrer o lavor

minucioso do tempo.

 

À tua sombra de pomar

ressoam passos do eterno

entre folhas: do eterno.

 

Ó pesado momento,

ó bojo cálido!

 

Luz sobre o musgo

(Egidijus Godliauskas: artista lituano)


Referência:

LISBOA, Henriqueta. Maturidade. In: FIGUEIREDO, José Valle de (Compilador). Antologia da poesia brasileira. Lisboa, PT: Editorial Verbo, s/d [197?]. p. 164.

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