Havendo chegado à maturidade, a poetisa mineira revolve os sentimentos que a temporada lhe suscita – feito amêndoas polpudas e macias, de sabor doce-amargo, vale dizer, como as experiências que contam a história de uma vida –, ponto de culminância a partir do qual as encostas, pouco a pouco, perdem altitude, até que desvaneçam em contato com o mar.
A voz lírica sente o peso desse momento, no qual o velame acha-se ancorado ao porto, no aguardo de uma jornada rumo à eternidade: o instante mesmo do apogeu é o indicativo a demarcar um quartel finito para nossos corpos físicos, nossas humanas pretensões, sem que haja cesuras na seta irretornável do tempo.
J.A.R. – H.C.
Henriqueta Lisboa
(1901-1985)
Maturidade
Maturidade, sinto-te na polpa
dos dedos: abundante e macia.
Saturada de sábias,
doce-amargas amêndoas.
És o tálamo para a morte,
o velame no porto.
Sob teu musgo, a pedra.
O silêncio em teu seio é prata
a sofrer o lavor
minucioso do tempo.
À tua sombra de pomar
ressoam passos do eterno
entre folhas: do eterno.
Ó pesado momento,
ó bojo cálido!
Luz sobre o musgo
(Egidijus Godliauskas: artista lituano)
Referência:
LISBOA, Henriqueta. Maturidade. In:
FIGUEIREDO, José Valle de (Compilador). Antologia da poesia brasileira.
Lisboa, PT: Editorial Verbo, s/d [197?]. p. 164.
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