Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Conrad Aiken - Esta imagem ou outra

Aiken nos fala daquele momento mítico, no qual o fluir da existência converte-se em palavra, em poesia: espera-se que a ação da mente, em anamnese dos fatos de ontem, seja capaz de apor em palavras o significado de todo desalinho em que imersa, a defluir das inter-relações entre o mundo externo e o mundo interno, para que se possa superar as dificuldades da fala.

Se o significado privado ou oculto das coisas decanta-nos na fala e, logo, no poema, poderemos, assim, dominar e trazer para o presente o “mundo morto” de ontem, restaurando-o e mantendo-o preservado para a nossa e gerações futuras: quando o poeta escande os versos da última estrofe, não está se limitando à tarefa de emitir imperativos a si próprio, senão a todos os leitores!

J.A.R. – H.C.

 

Conrad Aiken

(1889-1973)

 

This image or another

 

This image or another, this quick choosing,

raindrop choosing a path through grains of sand

the blood-drop choosing its way, that the dead world

may wake and think or sleep and dream

 

This gesture or another, this quick action

the bough broken by the wind and flung down

the hand striking or touching, that the dead world

may know itself and forget itself

 

This memory or another, this brief picture

sunbeam on the shriveled and frosted leaf

a world of selves trying to remember the self

before the idea of self is lost –

 

Walk with me world, upon my right hand walk,

speak to me Babel, that I may strive to assemble

of all these syllables a single word

before the purpose of speech is gone.

 

Sangue e Areia

(Sergey Kirillov: artista russo)

 

Esta imagem ou outra

 

Esta imagem ou outra, esta rápida escolha,

gota de chuva escolhendo um caminho através

dos grãos de areia,

gota de sangue escolhendo o seu caminho, para que

o mundo morto

possa despertar e pensar ou dormir e sonhar.

 

Este gesto ou outro, esta rápida ação,

o ramo partido pelo vento e posto abaixo,

a mão batendo ou tocando, para que o mundo morto

possa conhecer-se e esquecer-se de si mesmo.

 

Esta memória ou outra, esta breve imagem,

raio de sol sobre a folha murcha e congelada,

um mundo de individualidades tentando lembrar-se

de si mesmo

antes que se perca a ideia de si mesmo.

 

Caminhe comigo, mundo, sobre a minha direita caminhe,

fale comigo Babel, para que possa esforçar-me por reunir,

de todas essas sílabas, uma só palavra

antes que o propósito da fala se extinga.


Referência:

AIKEN, Conrad. This image or another. In: __________. Selected poems. With a new foreword by Harold Bloom. New York, NY: Oxford University Press, 2003. p. 155-156.

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