Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Heinrich Heine - Perguntas

Heine, enquanto emitente da própria voz lírica, busca uma resposta aos dilemas mais candentes da existência − o que vem a ser o homem, de onde veio e para onde vai? −, indagações a que a filosofia se dedica há milênios, sem respostas plenamente terminativas, haja vista a cornucópia de valores, crenças, convicções, atitudes e culturas em que enredado o próprio sujeito do conhecimento.

Nem por isso se poderá prestigiar a forma como o ente lírico adjetiva a si próprio – um tolo ou, na versão do tradutor do poema, um doido −, isto porque a cada um, sob o sol, incumbe a tarefa de empreender sentido à sua própria existência, levando-a a converter-se em uma experiência significativa − em óbvia antítese às abordagens niilistas, segundo as quais a realidade é um completo sem sentido.

J.A.R. – H.C.

 

Heinrich Heine

(1797-1856)

Retrato de Autoria Desconhecida

 

Fragen

 

Am Meer, am wüsten, nächtlichen Meer

Steht ein Jüngling-Mann,

Die Brust voller Wehmut, das Haupt voll Zweifel,

Und mit düstern Lippen fragt er die Wogen:

 

“O löst mir das Rätsel des Lebens,

Das qualvoll uralte Rätsel,

Worüber schon manche Häupter gegrübelt,

Häupter in Hieroglyphenmützen.

Häupter im Turban und schwarzem Barett,

Perückenhäupter und tausend andre

Arme, schwitzende Menschenhäupter −

Sag mir, was bedeutet der Mensch?

Woher ist er kommen? Wo geht er hin?

Wer wohnt dort oben auf goldenen Sternen?”

 

Es murmeln die Wogen ihr ewges Gemurmel,

Es wehet der Wind, es fliehen die Wolken,

Es blinken die Sterne, gleichgültig und kalt,

Und ein Narr wartet auf Antwort.

 


Tempestade no mar em noite enluarada
(Ivan Aivazovsky: pintor russo)

 

Perguntas

 

Junto ao mar, ao vasto mar noturno,

está um adolescente

com o coração cheio de dores

e a cabeça cheia de dúvidas,

que com lábios trêmulos interroga as ondas:

 

“Oh! Explicai-me o enigma da vida,

o eterno, calamitoso enigma

sobre que tantas cabeças parafusaram,

cabeças de barretes hieroglíficos,

cabeças de turbantes e de gorros pretos,

cabeças metidas em perucas,

e mil outras pobres, transpirantes cabeças humanas.

Dizei-me, que vem a ser o homem?

Donde veio? Para onde vai?

Quem mora lá em cima nas estrelas de ouro?”

 

As ondas murmuraram o seu perpétuo murmúrio,

sibila o vento, voam as nuvens,

no céu cintilam as estrelas,

frias e indiferentes,

e um doido espera a resposta.

 

Referências:

Em Alemão

HEINE, Heinrich. Fragen. Disponível neste endereço. Acesso em: 10 nov. 2020.

Em Português

HEINE, Heinrich. Perguntas. Tradução de Marcos de Castro. In: GUINSBURG, J. Quatro mil anos de poesia. Organização de J. Guinsburg e Zulmira Ribeiro Tavares. Desenhos de Paulina Rabinovich. São Paulo, SP: Perspectiva, 1969. p. 357-358. (Coleção “Judaica”)

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