Sob a forma de um soneto, a poetisa mineira condensa em versos o que lhe vem à memória e ao espírito, quando contempla uma árvore de Natal, esse símbolo que, em associação à forma de pinheiro comumente empregada, serve para representar a palavra que perdura, mesmo diante dos “invernos” por que passam aqueles que se dedicam a montá-la.
Para os infantes, de todo modo, o que mais importa não são os adornos, os laços ou o fastígio que se acrescenta ao ponto mais alto da árvore, senão os brinquedos que rodeiam a sua base, fazendo com que vibrem “os cristais” em seus olhos, num mundo mágico, de fantasia, de imaginação, mil vezes estimulado pelos adultos, lançando mão de outros recursos − a exemplo da música e da própria poesia.
J.A.R. – H.C.
Maria Ângela Alvim
(1926-1959)
Árvore de Natal
A estrela em tuas grimpas vem. E a rosa,
súbito acaso, freme na ramada.
Desencanta! Por teu fruto esperada,
planta rara de quadra milagrosa.
Só tu reentenderás a morna glosa
daquela ave de estio eternizada.
Uma espiral, dos anjos leve escada,
e Deus, em tua raiz prodigiosa.
Outros sóis desorbitam da grandeza,
pelos cordões de luz rasgada ao dia,
os seus fogos luzindo em noite acesa.
A neve traz calor, enquanto os sinos
descem degraus de som na fantasia,
vibram cristais nos olhos dos meninos.
Manhã de Natal
(Henry Mosler: pintor alemão)
Referência:
ALVIM, Maria Ângela. Árvore de Natal.
In: __________. Poemas. Rio de Janeiro, GB: Departamento de Imprensa
Nacional, 1962. p. 89.
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