Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 5 de dezembro de 2020

Austin Clarke - O Douto

O poeta irlandês parafraseia livremente ao inglês um poema gaélico do século XVIII – “An Mac Léighinn” (“The Son of Learning”) – de anônima autoria, a evocar a apreciação das coisas simples da natureza − uma das conquistas distintivas da tradição religiosa de seu país −, recorrendo, ainda, às alusões míticas presentes na poética dos bardos tradicionais.

Interessante é o trocadilho empregado pelo autor com a palavra “lavrar”, cuja acepção conotativa sobressai nos versos, para enfatizar que o douto ou o erudito “ara” lucrativamente com sua pena. Ou seja: seus esforços são essencialmente intelectuais − e não físicos −, fazendo valer a lógica deduzida por meio do “conhecimento e da razão”.

J.A.R. – H.C.

 

Austin Clarke

(1896-1974)

 

The Scholar

 

Summer delights the scholar

With knowledge and reason.

Who is happy in hedgerow

Or meadow as he is?

 

Paying no dues to the parish,

He argues in logic

And has no care of cattle

But a satchel and stick.

 

The showery airs grow softer,

He profits from his ploughland

For the share of the schoolmen

Is a pen in hand.

 

When midday hides the reaping,

He sleeps by a river

Or comes to the stone plain

Where the saints live.

 

But in winter by the big fires,

The ignorant hear his fiddle,

And he battles on the chessboard,

As the land lords bid him.


Jovem acadêmico em seu estudo: melancolia

(Pieter Jacobs Codde: pintor holandês)

 

O Douto

 

O verão deleita o douto

Com conhecimento e razão.

Quem, como ele, é feliz

Nas sebes ou nos prados?

 

Sem pagar taxas à paróquia,

Argumenta com lógica

E não toma conta do gado,

Mas da pasta e da bengala.

 

Os ares chuvosos suavizam-se

E ele lucra com sua lavoura,

Visto que o ofício dos mestres

Cinge-se a uma caneta na mão.

 

Ao refrear da ceifa, ao meio-dia,

Dorme junto a um rio,

Ou dirige-se à planície pedregosa

Onde vivem os santos.

 

Mas no inverno, à luz dos fogaréus,

O ignaro ouve o seu violino,

E ele porfia num tabuleiro de xadrez,

Como lhe propõem os terratenentes.


Referência:

CLARKE, Austin. The scholar. In: HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The rattle bag. 1st publ. London, EN: Faber and Faber, 1982. p. 364.

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