Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Santos Moraes - Natal

O poeta baiano não reconhece no Natal – pelo menos no Natal a que se reporta no poema − os marcantes e puros atrativos da temporada em seus dias de infância: desapareceram as estrelas e já não há “a alegria e os rumores nos largos iluminados”, senão apenas os cultos e liturgias mais reservados em igrejas e templos.

Vai aqui um comento que mais parece uma tese suspeita: talvez a paisagem mental dos que se encontram além do meio do caminho esteja mais exposta à memória de eventos que marcaram Natais passados, deixando de atentar para os novos sinais que a quadra suscita, isto em razão de que o impacto em suas emoções sucedem agora menos pelo efeito da recepção de presentes e regalos, mas do maior ou menor grau de conexão emocional com os familiares e amigos – ou ainda, por outra formulação, as repercussões íntimas passam a ter prevalência, no correr dos anos.

J.A.R. – H.C.

 

Noite de Natal

(George Inness: pintor norte-americano)

 

Natal

 

Noite úmida sem lanternas

onde estão as estrelas

a lua em quarto crescente

teu presépio de Natal?

 

Noite cheia de presságios

pejada de escuridão

que fim levaram sorrisos

e alegrias tão puras

encantamentos da infância?

 

Noite escura sem lanternas

debalde busco a pureza

o encanto que me deste.

Recolheram-te às igrejas

aos templos silenciosos

já não és alegrias e rumores

nos largos iluminados.

Fria noite, fria e triste,

já não brilham tuas estrelas

nunca mais te reconheço.

 

Em: “A Nuvem e o Fogo” (1948)


Árvore iluminada em Benicia (CA)

(Autoria desconhecida)


Referência:

MORAES, Antonio dos Santos. Natal. In: __________. Poemas do hóspede. Rio de Janeiro, GB: Editora Luan, 1969. p. 120. (Editado com a colaboração do Instituto Nacional do Livro)

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