O poeta baiano não reconhece no Natal – pelo menos no Natal a que se reporta no poema − os marcantes e puros atrativos da temporada em seus dias de infância: desapareceram as estrelas e já não há “a alegria e os rumores nos largos iluminados”, senão apenas os cultos e liturgias mais reservados em igrejas e templos.
Vai aqui um comento que mais parece uma tese suspeita: talvez a paisagem mental dos que se encontram além do meio do caminho esteja mais exposta à memória de eventos que marcaram Natais passados, deixando de atentar para os novos sinais que a quadra suscita, isto em razão de que o impacto em suas emoções sucedem agora menos pelo efeito da recepção de presentes e regalos, mas do maior ou menor grau de conexão emocional com os familiares e amigos – ou ainda, por outra formulação, as repercussões íntimas passam a ter prevalência, no correr dos anos.
J.A.R. – H.C.
Noite de Natal
(George Inness: pintor norte-americano)
Natal
Noite úmida sem lanternas
onde estão as estrelas
a lua em quarto crescente
teu presépio de Natal?
Noite cheia de presságios
pejada de escuridão
que fim levaram sorrisos
e alegrias tão puras
encantamentos da infância?
Noite escura sem lanternas
debalde busco a pureza
o encanto que me deste.
Recolheram-te às igrejas
aos templos silenciosos
já não és alegrias e rumores
nos largos iluminados.
Fria noite, fria e triste,
já não brilham tuas estrelas
nunca mais te reconheço.
Em: “A Nuvem e o Fogo” (1948)
Árvore iluminada em Benicia (CA)
(Autoria desconhecida)
Referência:
MORAES, Antonio dos Santos. Natal. In:
__________. Poemas do hóspede. Rio de Janeiro, GB: Editora Luan, 1969.
p. 120. (Editado com a colaboração do Instituto Nacional do Livro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário