Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Cesar Vallejo - Massa

Não basta um homem, tampouco milhares deles para que um moribundo soldado volte prestimosamente à vida: são necessários, literalmente, todos os cidadãos sobre a terra, num apelo, para que tal intento se concretize, ou melhor, ele se levante e siga em frente, agora para lutar por ideais positivos − e não por convicções que resultem em conflitos sangrentos e inúteis.

Afinal, buscar legitimidade na decisão dos governos em promover a guerra nem sempre é uma justificativa insuspeita, com a pior das consequências: expor uma massa de soldados ao pior, servindo de “bucha de canhão” na frente de batalha. E ao final, nem sempre a conseguir os objetivos que poderiam ser obtidos com uma negociação mais ponderada com a parte adversa.

J.A.R. – H.C.

 

César Vallejo

(1892-1938)

 

Masa

 

Al fin de la batalla,

y muerto el combatiente, vino hacia él un hombre

y le dijo: “No mueras, te amo tanto!”

Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo.

 

Se le acercaron dos y repitiéronle:

“No nos dejes! ¡Valor! ¡Vuelve a la vida!”

Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo.

 

Acudieron a él veinte, cien, mil, quinientos mil,

clamando: “Tanto amor y no poder nada contra la muerte!”

Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo.

 

Le rodearon millones de individuos,

con un ruego común: “¡Quédate hermano! "

Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo.

 

Entonces, todos los hombres de la tierra

le rodearon; les vio el cadáver triste, emocionado;

incorporóse lentamente,

abrazó al primer hombre; echóse a andar...

 

En: “España, aparta de mi este caliz” (1937)

 

Um soldado morto

(Anônimo italiano)

 

Massa

 

Ao fim da batalha,

e morto o combatente, veio até ele um homem

e lhe disse: “Não morras, amo-te tanto!”

Mas o cadáver ai! continuou a morrer.

 

Dois se aproximaram dele e lhe repetiram:

“Não nos deixes! Coragem! Volta à vida!”

 Mas o cadáver ai! continuou a morrer.

 

Acudiram-lhe vinte, cem, mil, quinhentos mil,

clamando: “Tanto amor e não poder nada contra a morte!”

Mas o cadáver ai! continuou a morrer.

 

Rodearam-no milhões de indivíduos,

com um pedido comum: “Sobrevive, irmão!”

Mas o cadáver, ai! continuou a morrer.

 

Então, todos os homens da terra

o rodearam: viu-os o cadáver triste, emocionado;

levantou-se lentamente,

abraçou o primeiro homem; e pôs-se a andar...

 

Em: “Espanha, afasta de mim este cálice” (1937)


Referência:

VALLEJO, César. Masa. In: __________. Obra poética completa. Edición, prólogo y cronologia por Enrique Ballón Aguirre. Segunda reimpresión. Caracas, VE: Fundación Biblioteca Ayacucho, 2015. p. 211.

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