Tendo as árvores como parâmetro para elaborar
suas metáforas, o poeta carioca, de fato, procura erradicar das pessoas com
muitas primaveras o temor da morte, afirmando-as pelo poder da alegria e da
bondade, num momento da vida em que muitos dos sonhos já se realizaram,
deixando-as mais serenas, eis que para elas, deveras, valeria a máxima de
Terêncio (185 a.C. - 159 a.C.): nada do que é humano lhes é estranho.
Poder-se-ia interpretar a díade “sombra e consolo”, invocada pelo vate parnasiano, como o corolário da habitual atividade de assessoria ou aconselhamento de que são incumbidos os mais longevos, pois, plenos de experiências, são capazes de vislumbrar o caminho menos atribulado ou embaraçoso nas lidas da vida. Não sem motivos, muitas das obras sobre preceitos do bem-viver, da prudência e do equilíbrio – como as “Meditações”, de Marco Aurélio (121 d.C. - 180 d.C.), ou as “Cartas”, de Sêneca (4 a.C. - 65 d.C.) – foram redigidas nesse estágio da existência.
J.A.R. – H.C.
Olavo Bilac
(1865-1918)
Velhas Árvores
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores mais moças, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas...
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Em: “Alma Inquieta” (1902)
Outono: paisagem com quatro árvores
(Vincent van Gogh: pintor holandês)
Referência:
BILAC, Olavo. Velhas árvores. In:
__________. Poesias. Posfácio de R. Magalhães Júnior. 5. ed. Rio de
Janeiro, RJ: Ediouro, 2002. p. 136. (Coleção ‘Prestígio’; nº 20710)
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