As festas de Ano Novo denotam um “eterno retorno” ao início da contagem dos tempos – um “corte”, como assinala o poeta −, finalizando os dias de um vetusto senhor e iniciando os de uma criança que se apraz em correr pela casa, em companhia de outras crianças e dos brinquedos que decerto ganhara pelo ensejo do Natal.
E nesse trânsito todos procuramos capturar novos sentidos a serem atribuídos aos dias futuros, plenos de significado para nossos atribulados quotidianos, de sorte que, num vislumbre de serenidade e coerência, possamos avançar, seguramente, rumo ao cumprimento de nossas missões de vida: um grande Ano Novo para todo(a)s!
J.A.R. – H.C.
Antônio Olinto
(1919-2009)
Balada de Ano Novo
Ano Novo chega e bate
no tempo já compilado,
sacode a imobilidade
dos tempos de cada lado,
arremessa vento em velas,
põe menino em corredores
menino pega na bola,
tira grito dos temores,
dobra tempo e tempo vira,
coleciona vidro em gude,
prega a tampa no caminho
até que a aparência mude,
é menino mas é tempo
regressando à luz da vela,
a vela que vela acesa
e faz o tom da janela
ser outro corte no tempo.
Ano Novo tempo solta,
prossegue e rompe as firmezas
do tempo que avança e volta,
fica parado na porta
vendo a já concentração
de tempos sem pedra ou rótulo
numa queda afirmação
de queda tombada quieta
e logo petrificada.
Ano Novo é tempo e não
parece coisa integrada
nas dobras que se vieram
formando pelas paredes
da rota nem sempre lisa.
Se queres o dia e pedes
um pouco de entendimento
de puros significados,
ficas no gume inachável
de sinais sem base ou lados.
No tempo que surge e cai
todo momento é capaz
de tentar saber do tempo
o tempo que o tempo faz
e livros de limpos números
enumeram claros textos
de futuros indizíveis
e tempos em sãos pretextos
de agarrar o tempo exato
existente em cada quina
e dar a tudo a matéria
da mulher e da menina
na balada do Ano Novo
de tempos chegando em jorros
e ficando na mudança
de chãos em possíveis morros,
de brados na calma lida,
de gesto no jato e pouso,
de luta posta em sossego,
de avanço feito em repouso.
Ano Novo
(Yuri Pimenov: pintor russo)
Referência:
OLINTO, Antônio. Balada de ano novo.
In: __________. Antologia poética. Rio de Janeiro, GB: Editora Leitura,
1966. p. 125-126.
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