O ente lírico recorda-se de sua falecida esposa e o costume que tinha de limpar os cantos e sob a escada da casa com um aspirador a vácuo, haja vista a sua devoção pela limpeza. De sua parte, prefere ele agora manter o aspirador silencioso num armário, pois o aparelho mais lhe parece um fantasma a reviver o espírito de sua companheira, já que – metaforicamente, é claro − costuma uivar e emitir expressões ruidosas de zanga.
A vida agora para o falante passa descuidadamente, tão trivial quanto a sujeira por toda parte, mas os efeitos do que perdurou mantém-se em sua forma de ser: o seu zangado coração age como uma máquina obcecada, uivando e mordendo o ar, como se houvesse se fundido com o objeto físico ao qual está associada a lembrança de sua esposa.
J.A.R. – H.C.
Howard Nemerov
(1920-1991)
The Vacuum
The house is so quiet now
The vacuum cleaner sulks in the corner closet,
Its bag limp as a stopped lung, its mouth
Grinning into the floor, maybe at my
Slovenly life, my dog-dead youth.
I’ve lived this way long enough,
But when my old woman died her soul
Went into that vacuum cleaner, and I can’t bear
To see the bag swell like a belly, eating the dust
And the woolen mice, and begin to howl
Because there is old filth everywhere
She used to crawl, in the corner and under the
stair.
I know now how life is cheap as dirt,
And still the hungry, angry heart
Hangs on and howls, biting at air.
Vácuo
(Nico Lasraud: artista francês)
O Vácuo
A casa está agora tão tranquila.
O aspirador amuado no armário de canto
Seu coletor murcho como um pulmão inerte, o bocal
A sorrir no chão, talvez à minha
Vida descuidada, vida de cachorro morto.
Assim vivi por bastante tempo,
Mas quando faleceu minha velha, sua alma
Foi sorvida por esse aspirador a vácuo, e não
suporto
Ver o coletor dilatar como um ventre, sorvendo o pó
E os fiapos lanosos, e começar a uivar.
Porque a sujeira velha dispersa-se por toda parte
Ela costumava rastejar pelos cantos e embaixo da
escada.
Agora sei que a vida é trivial como a sujeira,
E ainda assim o coração ávido e exasperado
Aferra-se e uiva, a morder o ar.
Referência:
NEMEROV, Howard. The vacuum. In:
HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The rattle bag. 1st publ. London,
EN: Faber and Faber, 1982. p. 448.
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