Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Howard Nemerov - O Vácuo

O ente lírico recorda-se de sua falecida esposa e o costume que tinha de limpar os cantos e sob a escada da casa com um aspirador a vácuo, haja vista a sua devoção pela limpeza. De sua parte, prefere ele agora manter o aspirador silencioso num armário, pois o aparelho mais lhe parece um fantasma a reviver o espírito de sua companheira, já que – metaforicamente, é claro − costuma uivar e emitir expressões ruidosas de zanga.

A vida agora para o falante passa descuidadamente, tão trivial quanto a sujeira por toda parte, mas os efeitos do que perdurou mantém-se em sua forma de ser: o seu zangado coração age como uma máquina obcecada, uivando e mordendo o ar, como se houvesse se fundido com o objeto físico ao qual está associada a lembrança de sua esposa.

J.A.R. – H.C.

 

Howard Nemerov

(1920-1991)

 

The Vacuum

 

The house is so quiet now

The vacuum cleaner sulks in the corner closet,

Its bag limp as a stopped lung, its mouth

Grinning into the floor, maybe at my

Slovenly life, my dog-dead youth.

 

I’ve lived this way long enough,

But when my old woman died her soul

Went into that vacuum cleaner, and I can’t bear

To see the bag swell like a belly, eating the dust

And the woolen mice, and begin to howl

 

Because there is old filth everywhere

She used to crawl, in the corner and under the stair.

I know now how life is cheap as dirt,

And still the hungry, angry heart

Hangs on and howls, biting at air.

 

Vácuo

(Nico Lasraud: artista francês)

 

O Vácuo

 

A casa está agora tão tranquila.

O aspirador amuado no armário de canto

Seu coletor murcho como um pulmão inerte, o bocal

A sorrir no chão, talvez à minha

Vida descuidada, vida de cachorro morto.

 

Assim vivi por bastante tempo,

Mas quando faleceu minha velha, sua alma

Foi sorvida por esse aspirador a vácuo, e não suporto

Ver o coletor dilatar como um ventre, sorvendo o pó

E os fiapos lanosos, e começar a uivar.

 

Porque a sujeira velha dispersa-se por toda parte

Ela costumava rastejar pelos cantos e embaixo da escada.

Agora sei que a vida é trivial como a sujeira,

E ainda assim o coração ávido e exasperado

Aferra-se e uiva, a morder o ar.


Referência:

NEMEROV, Howard. The vacuum. In: HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The rattle bag. 1st publ. London, EN: Faber and Faber, 1982. p. 448.

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