Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Reinaldo Ferreira - Natal de Longe

Muito se perdeu da forma de comemorar os Natais antigos − ou mesmo do próprio espírito do Natal − hoje, bem mais voltado a comprar e consumir, e menos a celebrar a união com a família e com o divino: segundo o poeta, o coração já não sente quaisquer emoções a respeito, tanto mais em razão de que passou a vivenciá-lo em clima mais tórrido.

O Natal, hoje em dia, é muito sobre o que você não tem ou mesmo obrigar-se a fazer coisas que você não está disposto a fazer, um “desistir da jornada” sem coragem para retornar: quer o autor se expresse metaforicamente quer não, o fato é que o “calor” − antes presente nos laços familiares ou de amizade, a esta época −, era, sem dúvida, mais autêntico e mais intenso.

J.A.R. – H.C.

 

Reinaldo Ferreira

(1922-1959)

 

Natal de Longe

 

Natal!... Natal!...

A boca o diz,

A mão o escreve,

O coração já não sente.

 

Que a emoção,

Vibração

Das asas da fantasia

No voo do pensamento,

Deixou-se ficar parada

Só porque a noite está quente;

Só porque ser indolente

É como parar na estrada

E desistir da jornada,

Sem coragem de voltar

Pelo caminho tão rude!

 

Natal!... Natal!...

 

A doce força que tinha

Devorou-a a latitude.

 

Burgo no Natal

(Thomas Kinkade: pintor norte-americano)


Referência:

FERREIRA, Reinaldo. Natal de longe. In: __________. Poemas. Prefácio de José Régio. 2. ed. Lisboa, PT: Portugália, mai.1966. p. 142. (Coleção ‘Poetas de Hoje’; v. 21)

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