Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 27 de dezembro de 2020

Marcos Konder Reis - Tempo de Natal: V

Os elementos descritivos, neste poema do vate catarinense, bem poderiam estar associados à oitiva de um oratório ou musical, em combinação com recursos cênicos, num conservatório ou em uma sala reservada, em cujo transcurso revela-se o próprio falante a tomar parte, estando junto à janela outros tantos “cristos” a morder “um coração de açúcar”.

Todos se fazem presentes na mente do poeta, ainda que distantes no tempo e no espaço, numa época de Natal em que melodias como “Noite Feliz” (“Noite Silenciosa”) não soavam tão fastidiosas como agora: por que, então, não as apreciar com outros arranjos, misturando o Clássico com o Pop & Rock, como nesta interpretação da Trans-Siberian Orchesta?! 


O’ Come All Ye Faithful / O’ Holy Night


J.A.R. – H.C.

Marcos Konder Reis
(1922-2001)

Tempo de Natal

 

V

 

O pranto é uma neblina,

e vimos por trás do pranto a sala inteira

crescer entre as estrelas. E era,

como cantando,

a entrada num país verde, e de velas.

 

Caminhos onde subo

quebrando deslumbrado

os galhos perfumados

da árvore cantora.

 

As bolas guardam, curvas,

a tua face loura,

e os ângulos da sala:

 

Entre cordões de prata,

uma palavra nas guirlandas, data;

pencas penduradas, nozes de ouro.

 

(Sinos cor do outono batem glórias.)

 

Cristal ante cristais.

Natal, entre vitrais

e bolas alemães.

 

E em torno dele,

marcando brando baile,

o rosto coroado

de musas entonando

noturno Tannenbaum.

Vossos nomes que trago

guardados dentro d’alma

harmônica de bocas

soprando entusiasmadas

em tubos cor de prata.

 

Quem te viu, quem te viu, sala sonora, quem pôde

contemplar-te sendo criança, ouvir-te melodia, cantar-te

Stillenacht, sentir-te transparente, girante esfera estrela,

celeste atmosfera em torno d’alma?

 

Os habitantes daquele tempo.

 

E vós também, ó cristos na janela, mordendo em vossa

boca um coração de açúcar.

Vós me vistes brincando entre presentes, orando ante o

presépio, amando um Deus menino (amando e sendo

amado).

 

E quando nós sopramos,

nos lábios deslumbrados,

de lata uma corneta ao vosso espanto,

vós fostes Israel,

Nosso Senhor Jesus,

ouvindo a ler Joel

trombetas em Sião.

Rinque de patinação na Praça do Palácio
(Eskov Pavel: pintor russo)


Nota:

Tannenbaum – Árvore de Natal;

Stillenacht – Noite Silenciosa.


Referência:

REIS, Marcos Konder. Tempo de Natal: V. In: __________. Antologia poética. Rio de Janeiro, GB: Editora Leitura, 1971. p. 86-87.

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