Os elementos descritivos, neste poema do vate catarinense, bem poderiam estar associados à oitiva de um oratório ou musical, em combinação com recursos cênicos, num conservatório ou em uma sala reservada, em cujo transcurso revela-se o próprio falante a tomar parte, estando junto à janela outros tantos “cristos” a morder “um coração de açúcar”.
Todos se fazem presentes na mente do poeta, ainda que distantes no tempo e no espaço, numa época de Natal em que melodias como “Noite Feliz” (“Noite Silenciosa”) não soavam tão fastidiosas como agora: por que, então, não as apreciar com outros arranjos, misturando o Clássico com o Pop & Rock, como nesta interpretação da Trans-Siberian Orchesta?!
O’ Come All Ye Faithful / O’ Holy Night
J.A.R. – H.C.
Marcos Konder Reis
(1922-2001)
Tempo de Natal
V
O pranto é uma neblina,
e vimos por trás do pranto a sala inteira
crescer entre as estrelas. E era,
como cantando,
a entrada num país verde, e de velas.
Caminhos onde subo
quebrando deslumbrado
os galhos perfumados
da árvore cantora.
As bolas guardam, curvas,
a tua face loura,
e os ângulos da sala:
Entre cordões de prata,
uma palavra nas guirlandas, data;
pencas penduradas, nozes de ouro.
(Sinos cor do outono batem glórias.)
Cristal ante cristais.
Natal, entre vitrais
e bolas alemães.
E em torno dele,
marcando brando baile,
o rosto coroado
de musas entonando
noturno Tannenbaum.
Vossos nomes que trago
guardados dentro d’alma
harmônica de bocas
soprando entusiasmadas
em tubos cor de prata.
Quem te viu, quem te viu, sala sonora, quem pôde
contemplar-te sendo criança, ouvir-te melodia,
cantar-te
Stillenacht, sentir-te
transparente, girante esfera estrela,
celeste atmosfera em torno d’alma?
Os habitantes daquele tempo.
E vós também, ó cristos na janela, mordendo em
vossa
boca um coração de açúcar.
Vós me vistes brincando entre presentes, orando
ante o
presépio, amando um Deus menino (amando e sendo
amado).
E quando nós sopramos,
nos lábios deslumbrados,
de lata uma corneta ao vosso espanto,
vós fostes Israel,
Nosso Senhor Jesus,
ouvindo a ler Joel
trombetas
em Sião.
Rinque de patinação
na Praça do Palácio
(Eskov Pavel: pintor russo)
Tannenbaum – Árvore de Natal;
Stillenacht – Noite Silenciosa.
Referência:
REIS, Marcos Konder. Tempo de Natal: V. In: __________. Antologia
poética. Rio de Janeiro, GB: Editora Leitura, 1971. p. 86-87.
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