Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

W. B. Yeats - Nunca entregueis de todo o coração

Dada a natureza humana, entregar-se afetivamente a alguém, de forma absoluta, segundo o poeta, é receita infalível para que, num futuro não tão distante, tenha-se que suportar desventuras, conformando assim uma história trágica de amor: é que o amor nos tornaria “mudos, surdos e cegos”, levando-nos a enganos frente aos “beijos suaves” que se nos oferecem.

Porque amar demais, sem reciprocidade, seria o outro lado das manifestações de um sentimento evasivo, incerto, resistente a definições. E há quem, desgostoso e amargurado por suas desditas, pratique atos de extremada loucura, acarretando cesuras nos dias do(a) próprio(a) amante, do(a) amado(a) ou de terceiro(a) que se interponha na relação.

J.A.R. – H.C.

 

W. B. Yeats

(1865-1939)

 

Never give all the heart

 

Never give all the heart, for love

Will hardly seem worth thinking of

To passionate women if it seem

Certain, and they never dream

That it fades out from kiss to kiss;

For everything that’s lovely is

But a brief, dreamy, kind delight.

O never give the heart outright,

For they, for all smooth lips can say,

Have given their hearts up to the play.

And who could play it well enough

If deaf and dumb and blind with love?

He that made this knows all the cost,

For he gave all his heart and lost.

 

Beijo Roubado

(Ron Hicks: pintor norte-americano)

 

Nunca entregueis de todo o coração (*)

 

Nunca entregueis de todo o coração, que o amor

A custo um pensamento poderá valer

Às mulheres veementes, se ele parecer

Seguro; e elas não sonham, com o seu ardor,

Que ele de um beijo a outro vá desvanecer:

Pois tudo o que é encantador é tão somente

Um breve, um agradável, sonhador prazer.

Oh nunca deis o coração completamente,

Que, apesar do que os lábios poderão dizer,

Elas deram seus corações a um jogo em flor.

E quem brincar bastante bem há de poder,

Estando mudo e surdo e cego com o amor?

O que fez estes versos sabe o que sofreu,

Pois entregou seu coração todo e perdeu.

 

Notas do Tradutor:

(*) Pouco antes de Yeats ter embarcado para os Estados Unidos, aonde chegou, para proferir conferências, em 11 de novembro de 1903, ele deve ter tido conhecimento de que Maud Gonne se casara. Narra John Quinn que durante essa estada, Yeats certa vez, a caminho de um restaurante para jantar, começou a sussurrar umas palavras. Chegando ao restaurante, escreveu num pedaço de papel o poema, substancialmente como está no livro (“In the Seven Woods”, 1904).

Referência:

YEATS, W. B. Never give all the heart / Nunca entregueis de todo o coração. Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. In: __________. Poemas de W. B. Yeats. Tradução, introdução e notas de Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo, SP: Art Editora, 1987. Em inglês: p. 58; em português: p. 59.

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