Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 11 de julho de 2020

Eugenio Montejo - Islândia

Algo parecido com o que almeja o poeta Carlos Pellicer (1897-1977), consignado em seu poema “Desejos” – um lugar com um clima mais ameno que o de seu México natal –, o poeta venezuelano vai ainda mais longe: deseja um lugar tão frio quanto a remota Islândia, muito embora imponha uma condição de difícil operacionalização pela natureza, a saber, uma neve capaz de preservar, no fundo, o seu calor, para que as folhas dos cedros não sejam por ela varridas com a temperatura abaixo de zero.

Mas este internauta também tem um sonho de conhecer um país distante, ou melhor, uma cidade do outro lado do planeta – São Petersburgo –, tudo pelo seu passado cultural, com relevância na literatura, na música clássica, no balé clássico e na belíssima arquitetura da urbe. Sem falar de sua história apaixonante! Seria como um desejo reverso ao de Maiakóvski (1893-1930), que em certa ocasião teria se referido ao Brasil como o país em que o homem viveria em felicidade. Lamentável: não se manteve vivo para poder ver em que estado deplorável se encontra Pindorama e o seu homem!

J.A.R. – H.C.

Eugênio Montejo
(1938-2008)

Islandia

Islandia y lo lejos que nos queda,
con sus brumas heladas y sus fiordos
donde se hablan dialectos de hielo.

Islandia tan próxima del polo,
purificada por las noches
en que amamantan las ballenas.

Islandia dibujada en mi cuaderno,
la ilusión y la pena (o viceversa).

¿Habrá algo más fatal que este deseo
de irme a Islandia y recitar sus sagas,
de recorrer sus nieblas?

Es este sol de mi país
que tanto quema
el que me hace soñar con sus inviernos.
Esta contradicción ecuatorial
de buscar una nieve
que preserve en el fondo su calor,
que no borre las hojas de los cedros.

Nunca iré a Islandia. Está muy léjos.
A muchos grados bajo cero.
Voy a plegar el mapa para acercarla.
Voy a cubrir sus fiordos con bosques de palmeras.

Nascer do sol na Islândia
(Danuta K. Frydrych: pintor polonês)

Islândia

Islândia e o quão distante que nos fica,
com suas brumas geladas e seus fiordes
onde se falam dialetos de gelo.

Islândia tão próxima do polo,
purificada pelas noites
em que as baleias amamentam.

Islândia desenhada em meu caderno,
a ilusão e o desconsolo (ou vice-versa).

Haverá algo mais fatal que este desejo
de ir até a Islândia e recitar suas sagas,
de percorrer seus nevoeiros?

É este sol de meu país
que tanto queima
o que me faz sonhar com seus invernos.
Esta contradição equatorial
de buscar uma neve
que preserve no fundo o seu calor,
que não remova as folhas dos cedros.

Nunca irei até a Islândia. Está muito distante.
A muitos graus abaixo de zero.
Vou dobrar o mapa para aproximá-la.
Vou cobrir seus fiordes com bosques de palmeiras.

Referência:

MONTEJO, Eugenio. Islandia. In: MIRANDA, Rocío (Ed.). 24 poetas latinoamericanos. 1. ed. México, MX: CIDCLI, 1997. p. 248. (‘Coedición Latinoamericana’)

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