Algo parecido com o que almeja o poeta Carlos Pellicer (1897-1977),
consignado em seu poema “Desejos” – um lugar com um clima mais ameno que o de seu
México natal –, o poeta venezuelano vai ainda mais longe: deseja um lugar tão
frio quanto a remota Islândia, muito embora imponha uma condição de difícil
operacionalização pela natureza, a saber, uma neve capaz de preservar, no
fundo, o seu calor, para que as folhas dos cedros não sejam por ela varridas
com a temperatura abaixo de zero.
Mas este internauta também tem um sonho de conhecer um país distante, ou
melhor, uma cidade do outro lado do planeta – São Petersburgo –, tudo pelo seu
passado cultural, com relevância na literatura, na música clássica, no balé
clássico e na belíssima arquitetura da urbe. Sem falar de sua história
apaixonante! Seria como um desejo reverso ao de Maiakóvski (1893-1930), que em
certa ocasião teria se referido ao Brasil como o país em que o homem viveria em
felicidade. Lamentável: não se manteve vivo para poder ver em que estado deplorável se encontra Pindorama e o seu homem!
J.A.R. – H.C.
Eugênio Montejo
(1938-2008)
Islandia
Islandia y lo lejos
que nos queda,
con sus brumas
heladas y sus fiordos
donde se hablan
dialectos de hielo.
Islandia tan próxima
del polo,
purificada por las
noches
en que amamantan las
ballenas.
Islandia dibujada en
mi cuaderno,
la ilusión y la pena
(o viceversa).
¿Habrá algo más fatal
que este deseo
de irme a Islandia y
recitar sus sagas,
de recorrer sus
nieblas?
Es este sol de mi
país
que tanto quema
el que me hace soñar
con sus inviernos.
Esta contradicción
ecuatorial
de buscar una nieve
que preserve en el
fondo su calor,
que no borre las
hojas de los cedros.
Nunca iré a Islandia.
Está muy léjos.
A muchos grados bajo
cero.
Voy a plegar el mapa
para acercarla.
Voy a cubrir sus
fiordos con bosques de palmeras.
Nascer do sol na Islândia
(Danuta K. Frydrych:
pintor polonês)
Islândia
Islândia e o quão distante
que nos fica,
com suas brumas
geladas e seus fiordes
onde se falam
dialetos de gelo.
Islândia tão próxima
do polo,
purificada pelas
noites
em que as baleias
amamentam.
Islândia desenhada em
meu caderno,
a ilusão e o
desconsolo (ou vice-versa).
Haverá algo mais
fatal que este desejo
de ir até a Islândia
e recitar suas sagas,
de percorrer seus
nevoeiros?
É este sol de meu
país
que tanto queima
o que me faz sonhar
com seus invernos.
Esta contradição
equatorial
de buscar uma neve
que preserve no fundo
o seu calor,
que não remova as
folhas dos cedros.
Nunca irei até a
Islândia. Está muito distante.
A muitos graus abaixo
de zero.
Vou dobrar o mapa
para aproximá-la.
Vou cobrir seus
fiordes com bosques de palmeiras.
Referência:
MONTEJO, Eugenio. Islandia. In:
MIRANDA, Rocío (Ed.). 24 poetas
latinoamericanos. 1. ed. México, MX: CIDCLI, 1997. p. 248. (‘Coedición
Latinoamericana’)
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